quarta-feira, 28 de abril de 2010

SOBRE EDUCAÇÃO


CLIMA ESCOLAR E APRENDIZAGEM


José Neres


            No início de 2010, foi lançado o livro-relatório “Factores asociados al logro cognitivo de los estudiantes de América Latina y el Caribe”, assinado por alguns dos mais renomados pesquisadores da área de Educação  da atualidade. No livro, o grupo, formado por Ernesto Treviño, Héctor Valdés, Mauricio Castro, Roy Costillas, Carlos Pardo e Francisca Donoso Rivas, discute os problemas encontrados no processo educativo dos países que serviram de base para uma longa e exaustiva pesquisa, que teve início em 2004 e foi concluída em 2008. Depois  de meses de análise dos dados levantados, a pesquisa culminou no livro acima citado, publicado pela UNESCO e que se encontra disponível gratuitamente na internet.
            Em uma leitura rápida, alguém poderia pensar que o objetivo maior dos autores é comparar os sistemas educacionais dos países envolvidos na investigação, contudo, lendo página a página o trabalho, percebe-se que os autores vão mais além e sugerem soluções para diversos dos problemas que atravancam o progresso das crianças nas escolas dos países latino-americanos e do Caribe.
            Um dos pontos que chamam a atenção no trabalho dos educadores-pesquisadores é o que fala da relação entre clima escolar e aprendizagem. Ao longo de todo o relatório, os autores alertam para o fato de que “os estudantes aprendem mais quando frequentam escolas onde se sentem acolhidos e se dão relações de cordialidade e respeito entre alunos e professores” (pág. 15) e há a constatação de que “a gestão do diretor é a variável que ocupa o segundo lugar nos processos educativos quanto à consistência de sua relação com o rendimento” (pág. 125). De modo geral, o relatório deixa claro que “o clima escolar e a gestão do diretor são elementos essenciais para explicar uma melhora na aprendizagem, seguidos pela satisfação e o desempenho dos docentes” (pág. 107).
            Fica claro então que o clima escolar ao qual eles se referem está diretamente ligado à relação de empatia entre alunos, professores e gestores, com a áurea de respeito mútuo que deve pairar entre os atores envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Sem dúvida alguma, o aluno se sente mais à vontade em uma escola onde ele se sente respeitado em seus direitos e onde sabe que será ouvido em seus anseios e necessidades.
            Alguns gestores, infelizmente, pensam que esse clima educacional se resuma à limpeza física do ambiente e às estratégias de apenas fornecer recursos didático-pedagógicos para que os professores possam manter os alunos ocupados e, de preferência, calados durante a maior parte do período de aula. Claro que uma escola limpa, com  bons recursos tecnológicos, com livros à disposição de alunos e professores, com lanche e locais apropriados para o lazer muito ajudarão no desenvolvimento social e cognitivo dos alunos. Porém, além dos recursos materiais, é preciso também investimento no ser humano, no fortalecimento de valores positivos e no crescimento do capital imaterial dos alunos, dos professors e da comunidade em geral.
            Os próprios pesquisadores admitem que não é fácil atingir esse clima dentro das escolas, já que se trata de “uma medida complexa que denota o trabalho de docentes e diretores para criar uma sociedade acolhedora e respeitosa para os estudantes” (pág 15). Como o clima escolar não é uma variável mensurável e que possa ser divulgada como marca de sucesso administrativo, geralmente fica relegada a um plano secundário, contudo, o livro alerta para a necessidade de toda a comunidade escolar envolver-se com esse objetivo. Há no estudo a constatação de que “o clima escolar tem efeito positivo sobre o rendimento dos estudantes na maior parte dos países (pág. 107).
            Mas também há a comprovação de que esse clima positivo alcançado na escola pode ser potencializado em aprendizagem de leitura, matemática e ciências, se houver também um clima familiar que favoreça a permanência do aluno em sala de aula. O trabalho infantil é apontado pelos autores como um mal a ser combatido, pois, “um menino que trabalha obtém, em média, 7 a 22 pontos a menos que os alunos que não trabalham” (pág. 124), e isso irá se refletir, sem dívida no clima escolar, pois o aluno dificilmente poderá concentrar-se, durante seu período na escola, apenas às tarefas educacionais e, possivelmente, sentirá bem menos os efeitos do clima escolar sobre as ações educativas em geral.
            Mas o livro não se resume a essa discussão sobre clima, pelo contrário ele é bastante rico em sugestões de políticas educacionais e em sugestões para professores, gestores e para a comunidade em geral. Vale a pena ser lido na íntegra.

OBS: Se alguém quiser ler ou baixar o livro na íntegra, pode entrar no site na UNESCO ou clicar aqui.

domingo, 18 de abril de 2010

SOMBRAS NA ESCURIDÃO


Conforme prometemos, disponibilizo hoje o livro SOMBRAS NA ESCURIDÃO, uma obra que não foi publicada de forma tradicional em livro, mas que agora chega às suas mãos pelo mundo digital.

Em breve, para meus alunos vestibulando, irei disponibilizar o livro MANUAL DE ANÁLISE SINTÁTICA


Aguardem!!!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

CABELOS GRISALHOS NA SALA DE AULA
José Neres
Professor e Escritor

            Diante do espelho, ela retoca a maquiagem. Passa as mãos nos cabelos. Põe umas gotículas de perfume atrás das orelhas. Arruma a roupa. Pega os livros, xérox e apostilas, dá um tchau para todo mundo e, elegantemente, segue seu caminho.
            Ele, quase sempre apressado, escanhoa a barba, toma um banho, veste-se rapidamente. Aperta o cinto, amarra o cadarço dos sapatos. Pega os livros, cadernos, apostilas e demais materiais, despede-se da família e sai.
            Os quadros acima apresentam o ritual de dois estudantes que se preparam para mais uma jornada de estudos em sala de aula. Até bem pouco tempo, essa descrição viria acompanhada de alguma palavra que denotasse a pouca idade das pessoas que se dirigem para a escola ou para a faculdade. Hoje, porém, a mesma cena pode ser vista cotidianamente com pessoas que, após anos e mais anos de dedicação ao trabalho, à família, aos filhos e até mesmo aos netos, decidem voltar para a sala de aula e dar prosseguimento – ou até mesmo início – a seus estudos.
            Apesar do choque inicial da volta à sala de aula, tais estudantes de faixa etária diferenciada logo se recuperam e demonstram a professores e colegas de turma que idade não é obstáculo para a aprendizagem. Os limites impostos pelas condições físicas podem facilmente ser superados pela tenaz vontade de continuar aprendendo. As dificuldades de assimilar alguns assuntos mais complexos desaparecem com a dedicação aos livros e às pesquisas. E os preconceitos iniciais podem ser derrubados aos poucos, durante o período de permanência em sala de aula e com a troca de experiências que, obrigatoriamente, acontece no decorrer das diversas atividades educacionais.
            A pessoa idosa se adapta à condição de estudante com relativa facilidade. A volta às aulas, na fase da maturidade física, que, em um primeiro momento, pode parecer motivo de vergonha, passa a ser vista como exemplo de orgulho e de superação. Não são raros os depoimentos de estudantes que se dizem chocados com a presença dos chamados “tiozinhos”, “tiazinhas”, “vovozinhos” ou “vovozinhas” dividindo o mesmo espaço estudantil com os jovens, mas que, depois de algum tempo de convivência, se rendem ao magnetismo das experiências de vida dos colegas mais velhos. Em muitos casos o estudante idoso deixa de ser visto como elemento exótico e passa à condição de espelho, no qual os mais jovens começam a vislumbrar o próprio possível futuro.
            Visto apenas por esse prisma, parecer que a vida dos idosos em sala de aula vai às mil maravilhas, mas não é bem assim. O sistema educacional como um todo não se preparou para receber essa esses estudantes que em alguns casos requerem uma atenção e um cuidado especial. A estrutura física das instituições de ensino não facilita o deslocamento do idoso, os currículos nem sempre são adaptados às necessidades dessa nova clientela, e os profissionais da educação nem sempre estão preparados para lidar com pessoas que pararam de estudar há muito tempo ou que estudam com a finalidade maior de sedimentar um lastro de conhecimento e não mais com a de lutar por um espaço no competitivo mercado de trabalho.
            Embora estejam na mesma sala de aula, os objetivos dos estudantes mais jovens quase sempre diferem dos daqueles outros alunos que trazem no rosto, no corpo e na experiência de vida todo um histórico de desafios enfrentados ao longo de toda uma existência de glórias ou de sofrimentos. Mas o sistema educacional não se preocupa com isso e se propõe a medir os estudantes pela escala da vitalidade juvenil e não dose de experiência que cada pessoa pode  compartilhar com os companheiros de turma. Dessa forma, a educação destinada oferecida aos idosos esbarra em pelo menos duas barreiras, ambas altamente excludentes: ou vê o aluno como um corpo e uma mente cansados pelo tempo, ou o vê como um intruso em um universo feito somente para os jovens.
            Não importando o nível de aprendizagem ou o curso, línguas, informática, dança, artes, graduação ou pós-graduação, o idoso é um estudante como outro qualquer, com dúvidas e dificuldades somas a momento de vitórias e de superação contra os obstáculos impostos pelo próprio processo de ensino e aprendizagem. Mais que cabelos grisalhos em sala de aula, temos no ambiente educacional seres humanos  que já não lutam apenas por uma certificação, por um diploma, mas sim, como afirma a professora Jacira Câmara, uma das maiores autoridades no assunto, por qualidade de vida. E o direito à educação, assim como à saúde, é uma forma de oferecer a essas pessoas que tanto já se doaram para o mundo, mais alguns anos de  qualidade de  vida agregada à idade.   

segunda-feira, 5 de abril de 2010

POEMAS DE DESAMOR - Livro gratuito


Este pequenino livro foi publicado em 2003. Nunca foi comercializado, apenas distribuído aos meus amigos mais próximos. Agora, sete anos depois, ele está disponivel no mundo virtual.
Clique AQUI e baixe o livro para seu computador.
Um abraço.
Continue votando no próximo livro a ser liberado gratuitamente