TRÊS VITRINES DESPEDAÇADAS
José Neres
Educação,
cultura e meio ambiente são três vitrines que constantemente são exploradas por
todos os gestores públicos durante as campanhas eleitorais, mas que costumam
ser esquecidas nos momentos seguintes. Os nefastos resultados desses abandonos
tornam-se visíveis tanto nos indicadores sociais (quase sempre eclipsados pela
ênfase na infinita reprodução de uma política de pão e circo) quanto no dia a
dia, a partir de uma observação atenta do que ocorre na vida pública e na vida
privada.
Educação
é algo essencial para o desenvolvimento de um povo. Contudo, fica difícil
pensar em uma educação de qualidade
quando alunos, professores, familiares e demais atores sociais se veem
imersos em problemas que envolvem estruturas deficientes, descaso para com a
formação continuada dos docentes, desvalorização salarial, ausência quase total
de um projeto político-pedagógico prático e eficiente e de algo que estimule o
alunado a permanecer na sala de aula e o faça perceber que a educação é algo de
vital importância para a realização de um projeto de vida, qualquer que seja
ele.
É
também difícil esperar que o alunado se sinta motivado para ir à escola quando
há faltas de professores de praticamente todas as disciplinas e a maioria
desses profissionais da educação vive na amarga margem do não saber se seus
contratos serão ou não renovados e se irão ou não trabalhar com as disciplinas
para as quais se prepararam durante toda a vida acadêmica. É muito difícil
esperar que nossos professores se sintam confortáveis diante da falta de uma
sala de aula onde impera a sensação de insalubridade: temperatura elevada, água
de qualidade duvidosa, pouca acessibilidade, turmas superlotadas e cobranças
que ultrapassam os limites de suas forças...
Outra
vitrine abandonada é a cultura. Em momentos específicos, ela recebe uma espécie
de maquiagem para parecer que é bem cuidada. Os gestores quase sempre se
esquecem de que há inúmeros aspectos culturais em uma sociedade e se limitam a
cuidar (parcamente) daquilo que poderá ser exposto para um público ávido de
diversão imediata. Não são raros os casos em que aspectos culturais locais são
preteridos em prol de expressões que pouquíssima relação têm com as
singularidades do povo de determinada região, ou seja, aquilo que deveria ser
valorizado e incentivado acaba sendo desprezado por quem tem as chaves do
cofre.
Dessa
forma, o artista local, boquiaberto, vê verbas estratosféricas sendo destinadas
a personalidades consagradas, enquanto ele – o artista local – precisa mendigar
por um pouco de atenção do público e pelas sobras de um dinheiro mirrado que
muitas vezes custa a sair e que, quando sai, pode ser à custa de muita
humilhação. Será que é assim que se promove a cultura?
Finalmente
o meio ambiente. Essa deveria ser outra vitrine, assim como a cultura,
preparada para servir ao bem-estar da população local e como forma de atrair
turistas dos mais diversos espectros. No entanto, parece ser mais fácil passar
uma demão imaginária de tinta verde em tudo e divulgar a ideia de que ali
existe uma defesa racional do ambiente. Enquanto isso, a água servida continua
escorrendo a céu aberto, os resíduos sólidos continuam sendo descartados de
maneira irregular, os dejetos humanos continuam sendo despejados em rios e
praias, as árvores continuam sendo devastadas e o ar continua carregado de
substâncias nocivas à saúde.
Essas
três vitrines – e tantas outras – precisam ser tratadas com um cuidado que vá
além das promessas eleitorais e eleitoreiras. Elas são, em sua essência,
fundamentais para o planejamento de um futuro mais justo, sustentável e
eficiente. Pena que depois do resultado das urnas, os vencedores se esqueçam
das promessas firmadas nos palanques, e os derrotados passem a utilizá-las como
escada para um novo palanque.