terça-feira, 20 de julho de 2010

ARTIGO DE HAGAMENOM DE JESUS

É tão raro encontrar quem faça crítica literária em nossa terrinha, que não posso me furtar a reproduzir aqui o texto do poeta e ensaísta Hagamenom de Jesus sobre um de meus livros. O artigo saiu em um jornal de nossa capital, infelizmentente não tenho a referência exata. Assim que souber acrescentarei, para respeitar o trabalho do jornal. Boa leitura a todos e nosso muito obrigado ao autor do texto.




50 PEQUENAS TRAIÇÕES: SURGE UMA PROMESSA
NO ÂMBITO DA NARRATIVA CURTA

Hagamenom de Jesus
Poeta Maranhense

Qualquer pessoa que goste de literatura fica feliz quando imagina que um autor começa a se encontrar nos objetivos que buscava, quando principia a achar a sua melhor forma de expressão, as características que lhe são próprias e o gênero em que se ache mais à vontade. Acredito que com o livro 50 Pequenas Traições José Neres conseguiu isto.
Autor que publica com constância desde a sua estréia com Negra Rosa e outros Poemas (1999), José Neres tem livros em diversos gêneros literários, tais como poesia, ensaios, teatro e, desde 2006, contos. E os livros de ficção deste autor, até o lançamento de 50 Pequenas Traições, sempre me satisfizeram, mas apenas em parte. É que com este livro, a meu ver, o autor achou o melhor de si: humor, lirismo e uma bem sutil pitada de drama e erotismo. O livro, escrito no melhor estilo da despretensão (mas sem ser descuidado), trata do imemorial tema do adultério, das fabulosas, e “sempre edificantes”, estórias de corno.
Tema recorrente na literatura de todos os tempos, como bem destaca José Neres no início do livro, o autor, no entanto, situa todas as suas estórias muito bem ambientadas no momento atual. Ele consegue pôr em cena, de maneira simples, sem chatice, aquelas pequenas situações e dramas que sempre colocam na sua cabeça. É o marido, cotidianamente esfalfado pela imensa carga de trabalho, que não percebe como os óleos aromáticos colocados pela sua mulher vão se transportando para o corpo do vizinho. É a mulher, preocupada, querendo descobrir porque o marido voltou a sorrir e não reclama mais dos seus descuidos para com ele. É o cara moderno que queria a transa a três e notou que várias vezes, por descuido, o garoto de programa acabou chamando a esposa pelo seu nome verdadeiro – ainda que ela exigisse que fosse totalmente desconhecido (melhor é fingir que não se percebeu). São as pequenas vinganças, como a da jovem esposa, preterida cinicamente em função de uma amiga, que recebeu o maior e melhor pedaço de bolo no aniversário do seu marido. E o jeito foi dar, no dia de sua festa, para outrem, não só um pedaço de bolo... É o marido que tinha a mulher que todo homem sonhava, pois podia fazer tudo que quisesse, porque ela respeitava os seus prazeres, e, afinal, por que não dar umas voltinhas pelo bairro, quando a encontrou com o vizinho, e respeitar os prazeres dela?
Mas o primordial é que José Neres utilizou bem as referências que cita no início do livro e que reconhece como suas influências, caso, por exemplo, de Dalton Trevisan, um craque da narrativa curta. E é porque acredito que o autor se encontrou no contexto da narrativa curta que acho importante falar deste livro. Porque este é o livro do texto conciso, do padrão culto, mas coloquial, simples, da linguagem e, principalmente, um livro cujos maiores méritos estão em conseguir ser uma bem condensada crônica de costumes da atualidade, mesclando, sem intelectualismos enjoados e forçados, lirismo, bom humor e uma boa pitada de drama e sutil erotismo.
Claro que reprovo alguns textos, que não passam de piadas já batidas, e que, não fossem as próprias intenções despretensiosas do autor para com o livro, talvez não devessem estar nele. Claro que no âmbito da narrativa curta este ainda é um livro de aprendizado, que pode apontar para o autor um caminho a explorar e, para nós, leitores, a esperança de mais e melhor. Mas isto não compromete a qualidade do livro como um todo, do conjunto de contos. Este é um livro de muito bons textos, este é o livro do suave lirismo de “Óleos Aromáticos” e “Um Simples Botão”, do sutil erotismo e humor de “Feliz Aniversário”, “O Desconhecido” e “Deveres”, do realismo de “Escambo” e “O Banho”, mas, principalmente, este é o livro de “Atrás da Porta”, um conto sintético, de um simbolismo caricatural, quase um conto de fadas às avessas, um excelente conto que, na prática, fotografa o drama nosso contemporâneo de todos os dias, da solidão, da opressão, do descaso e do desamor. 50 Pequenas Traições, na sua despretensão e simplicidade, insidiosamente - como obrigatoriamente teria de ser - põe em foco suas indagações e vai conseguir aquilo a que todo livro deve aspirar: ser lido.










Um comentário:

  1. E por falar em Crítica Literária, existem outros espaços além do Guesa Errante [ eu digo no Jornalismo] que faça a crítica de autores vivos Maranhenses ? Tenho lido alguns blogues que se lançam a esse desafio de ler e criticar o que se produz na terrinha, mas não seria um movimento que começaria também nas escolas, Universidades ? Tenho pesquisado sobre o espaço da Crítica no Maranhão...o que falta para nós ? O que acha ?As feiras e eventos contribuem bastante, mas ainda há autores desconhecidos do grande público, persiste ainda a ideia de que clássicos são os mortos, Drummonds, Vieiras...e ainda ecoam os preconceitos de que não somos mais a Athenas Brasileira, como se não houvesse boa Literatura ainda sendo produzida, Culpa da ausência de uma crítica ?

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