A LITERATURA INFANTO-JUVENIL NO MARANHÃO – PARTE IV
José Neres
Um dos grandes obstáculos encontrados pelos escritores maranhenses é a falta de condições de escoamento de sua produção artístico-cultural. Como não há um sistema profissional de produção e de distribuição de livros, o autor torna-se, ao mesmo tempo, escritor, revisor, editor, patrocinador, divulgador e vendedor dos próprios trabalhos. Funções para as quais nem sempre está preparado ou tem disponibilidade de tempo. Isso faz com que a algumas obras de boa qualidade não atinjam o público-alvo. A falta de suplementos culturais que comentem, resenhem e divulguem a produção literária é outro percalço que contribui para o desânimo dos autores com relação ao alcance de seus trabalhos.
Tais problemas de divulgação trazem como consequência imediata a ausência das obras nas prateleiras das livrarias. Quem tem o desejo de ler os autores maranhenses esbarra na dificuldade de encontrar as obras à venda. No caso da literatura infanto-juvenil isso se torna bastante evidente também pelo fato de a quase totalidade dos escritores dedicados a esse gênero não terem suas obras adotadas pelas escolas e serem praticamente desconhecidos no próprio Estado em que nasceram ou que adotaram como lar.
Mesmo com tantos obstáculos, alguns escritores tentam vencer as barreiras da falta de espaço na mídia e nas escolas e produzem textos que muito têm a dizer ao público a que se destinam. É o caso de Josué Costa, poeta, teatrólogo e ator, que reuniu doze de seus textos teatrais em um volume intitulado “Comédias para rir e aprender”, um livro em que o riso e a seriedade de informações úteis sobre vícios, saúde e relações familiares se mesclam de forma equilibrada. Alguns esquetes, como os protagonizados pela Turma do Gueto, são altamente educativos e, a partir do humor, discutem problemas como alimentação inadequada, uso de drogas nas escolas, noções e higiene e outras situações que precisam ser discutidas na escola e na família. O livro, ricamente ilustrado, destina-se a pessoas de todas as idades, embora algumas peças tenham seu conteúdo aproveitado com maior intensidade por quem já tenha discernimento suficiente para perceber as ironias presentes nos diálogos.
A talentosa e experiente Lenita Estrela de Sá percorre com a mesma desenvoltura os caminhos da literatura tida como adulta e as tortuosas veredas dos textos infanto-juvenis. Em “A Filha de Pai Francisco”, a escritora retoma a conhecida temática do auto do bumba-meu-boi, mas dá uma roupagem diferente ao conflito principal, introduzindo novas personagens e discutindo situações que vão além do desejo de comer a língua do boi. Em outra obra – “A Lagartinha Crisencrise” – o universo da angústia das transformações físicas e comportamentais por que passam todos os seres humanos são metaforizados pela história da lagartinha ansiosa por tornar-se borboleta.
Joaquim de Oliveira Gomes, com seu livro de estreia, “O Jabuti que falava inglês”, não se preocupa apenas em contar a breve passagem do menino Pedrinho por uma região na qual ele é o estrangeiro e, portanto, o deslocado no meio de uma língua e de uma cultura diferentes. O jabuti que serve de título ao livro, não se limita a ser intérprete do menino, mas também é o elo entre aspectos culturais tão diversos e o elemento mediador entre os diversos temas suscitados pela obra: amizade, deslocamento cultural, aprendizagem e respeito pelo que há de diferente nas pessoas que se aproximam em busca de conforto e de solidariedade.
Infelizmente, as edições limitadas e o pouco incentivo a divulgação dificultam o acesso do leitor ao mundo mágico criado por Lucas Baldez em sua “Viagem ao Mundo da Imaginação”; às fantasias imagéticas de Tácito Borralho, em “Gibi, o menino que não sabia voar”; às irônicas metáforas de Lio Ribeiro, no alegórico “O Sumiço do Rei”; à amizade surreal criada por Suely Moura de Oliveira, no seu livro “Juliana”; e a tantos outros livros que se tornaram raridades nas estantes de nossas bibliotecas e de nossas livrarias
Grato, pela citação, poeta!
ResponderExcluirO grande escritor e crítico literário José Neres tem toda razão ao escrever os seus comentários a respeito de nossas dificuldades. Infelizmente o Maranhão não conhece os talentosos que têm, e o Estado é riquíssimo neste sentido. A Atenas ainda está viva, mais do que nunca, e a literatura maranhense agradece o esforço de todos. Parabéns, professor, você é 10.
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