ESCOLAS EM DEFESA DAS LETRAS
José Neres
Muitos
se perguntam o que fazer para que os jovens gostem da chamada cultura letrada
(poesia, romance, contos, peças teatrais...). As respostas são muitas. E todas
elas passam pelas mesmas variáveis: incentivo da família e da escola. Se a
família não apoiar o interesse do aluno pela leitura, todo o trabalho da escola
vai por água abaixo. Caso a escola também não tenha projetos que levem os
estudantes a procurarem as obras literárias, o esforço de alguns pais também
não surtirá tanto efeito.
Nos
últimos anos, uma iniciativa que vem dando certo, pelo menos em parte, é a
implantação de pesquisas sobre autores (clássicos e/ou contemporâneos) e culminância das pesquisas com suas apresentações
na própria escola ou em espaços públicos. Devidamente atrelada à estrutura
curricular da escola, essas ideias, que quase sempre nascem de iniciativas
particulares de professores de língua e literatura, quando encontram apoio do
corpo diretivo, têm grande chance de se tornarem sucesso. Mas há casos e mais
casos em que o professor (ou a professora) se vê ilhado pelo desinteresse das
autoridades escolares e a atividade, que poderia ter um alcance muito grande,
ficar restrito às quatro paredes da sala de aula.
Nos
últimos meses, assisti a três eventos dessa natureza e que foram além dos
limites da escola. Vou me deter mais no último, por se o mais recente. Em abril,
fui à Escola Ciências e fui brindado com um belo espetáculo. Alunos de diversas
séries falavam sobre escritores da terra. Jomar Moraes, Joaquim Itapary e
Ronaldo Costa Fernandes eram alguns dos homenageados. Professores, alunos,
coordenação e direção pareciam irmanados no desejo de fazer um evento de
qualidade. E conseguiram.
Em
setembro foi a vez do colégio O Bom Pastor, cujos alunos, em uma parte de manhã
dedicada às letras, homenagearam alguns escritores contemporâneos como, por
exemplo, Bioque Mesito, Marcos Fábio Belo Matos e José Ewerton Neto. Os alunos,
comandados pela professora Priscilla Robertha comentaram, discutiram e
recitaram trechos dos autores estudados. Tudo com capricho e muita dedicação.
Nesses
dois eventos, participei como convidado e homenageado, o que me encheu de felicidade
e da esperança de que, em um futuro próximo essas crianças, adolescentes e
pré-adolescentes se tornem leitores e produtores de nossas letras.
No
penúltimo dia de setembro, participei, na condição de pai, da apresentação da
VIII Noite Literária, promovida pelo colégio Cenaza, no Teatro João do Vale. Em
uma noite de festa para as letras, para a poesia e, principalmente de homenagem
às mulheres escritoras, os alunos trouxeram ao palco nomes como Maria Firmina
dos Reis, Cecília Meireles, Cora Coralina e Clarice Lispector, além de
incursões por outros gêneros que foram dramatizados.
Os
naturais momentos de nervosismo que antecedem os eventos públicos foram aos
poucos substituídos pela confiança de um dever cumprido. Os jovens, muitos
deles tendo sua primeira experiência no palco vinham ansiosos, não apenas de uma
boa apresentação mas também de mostrarem para pais, parentes, colegas e amigos
que têm capacidade de enfrentar um desafio dessa envergadura. A cada cena
representada, sentia-se o ar de alívio nas expressões dos alunos e também o
brilho de satisfação no rosto dos pais, além da certeza do dever cumprido que
se estampava no semblante dos membro do corpo diretivo da escola e dos
professores presentes.
As
pequenas falhas podem (e devem ser perdoadas) já que ninguém ali era
profissional do teatro. Mesmo assim há de se destacar pelo menos três belos
momentos: 1) a bela atuação da aluna que fez o papel da cartomante na peça
baseada em A Hora da Estrela – ela, de forma brilhante, demonstrou talento e
poder de improvisação diante da plateia; 2) O humor negro do rapaz que
reproduziu de forma muito competente o vídeo da freira humorista, muito visto
na internet – ele soube tralhar muito bem a voz e as pausas necessárias ao
andamento do texto; 3) a excelente montagem da vida de Cora Coralina, que faz a
junção entre os aspectos biográficos da escritora goiana com partes de suas
composições poéticas.
No
final das apresentações, o professor Tarcísio, o mentor do projeto, consciente
de que havia inoculado em alguns alunos o gosto pela leitura e pelas pesquisas
literárias, pôde respirar aliviado: aquela tarefa estava cumprida e o amor
pelas letras mais uma vez se transformava em realização profissional. Fim de
festa, mas não de luta em prol das letras.
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