segunda-feira, 28 de maio de 2012

domingo, 13 de maio de 2012

CANTANDO NA CHUVA

Durante uma semana, postaremos pequenos poemas ilustrados sobre literatura, música, cinema...
Para começar bem a semana, este poeminha sobre um dos filmes mais bonitos de todos os tempos...


Amanhã teremos outra postagem...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

EXPOSIÇÃO: VISITEM

local: Hotel Mar e Sol (em São José de Ribamar)
data: de 12 a 15 de maio de 2012
Artista: Val Prazeres

Venham conhecer o talento dessa artista que leva para a tela e para a alma das pessoas ramalhetes de flores e pétalas de alegria...


terça-feira, 1 de maio de 2012

SONIA ALMEIDA


SONIA ALMEIDA: A ALEGÓRICA PENUMBRA DA PALAVRA

José Neres
Jornal Pequeno - Suplemento Guesa
Novembro de 2011

      A luta com a palavra é algo constante, seja para quem utiliza as diversas linguagens apenas com o intuito de comunicar-se no dia a dia, seja para quem faz da palavra seu objeto de estudo e/ou de trabalho. De modo geral, as pessoas não dão tanta  atenção ao poder que emana das palavras e acreditam que comunicar é a única função que interessa na lide diária com os vocábulos. Mas não é bem assim! Quem faz da palavra sua fonte de trabalho, dores ou prazeres sabe que por trás de cada palavra pode se esconder um universo de significações, um mundo de ramificações que não se esgotam na troca cotidiana de informações. A palavra pode ferir, mas também tem poder de curar. Exalta, mas também intimida. Palavra é vida, é sangue, é abstração, é realidade... é sonho...

      E é dentro dessa atmosfera de limite entre o sonho e a realidade, entre o concreto e o abstrato que se situa o poeta, o ser que tenta tirar das palavras o fluido vital para tentar inocular nas demais pessoas tanto as belezas da vida quanto as agruras e os sofrimentos dos demais seres que nem sempre estão preparados para conviver com o universo das metáforas. O poeta nem sempre tem consciência de que, ao pôr os signos no papel ou na tela de um computador, pode alterar para sempre a percepção de mundo de todos os que virão ler ou ouvir aqueles versos. Por isso as palavras são, além de fonte de prazer é uma ameaça constante  ao poder constituído e forma de transgressão das possibilidades apenas racionais.

      Sonia Almeida, membro da Academia Maranhense de Letras e uma das homenageadas na V Feira do Livro de São Luís, é uma dessas pessoas que todos os dias tenta extrair do cerne das palavras a razão de toda uma existência. Seja como professora de Língua Portuguesa, seja como pesquisadora da linguagem ou como poetisa, ela todos os dias navega nas águas nem sempre calmas das palavras e luta para fixar no papel aquilo que parece tão claro e simples na imaginação. Desde seu primeiro trabalho publicado – Alegorias –, quando a escritora ensaiava seus primeiros passos rumo a uma produção mais madura, Sonia Almeida já demonstrava que a palavra seria seu maior desafio e sua proteção ao mesmo tempo. Já em seu primeiro trabalho, Sônia Almeidachama a atenção para as palavras.



É a palavra que me faz querer.

Hoje escolho a primeira: viagem.

Vou várias vezes. Vestida  de palavras sou agora, de forma incontrolável, esse balão que some nas nuves.

Nua de mim mesma, desapareço para me encontrar.



      Anos depois da estreia, ao publicar Penumbra, livro que foi recebido com grande entusiasmo por Josué Montello, a poetisa, em pleno domínio da linguagem poética, deixava claro que escrever é uma forma de usufruir uma liberdade que ultrapassa os limites corpóreos e alcança a dimensão do inefável. No primeiro poema do livro, o eu lírico diz:



Coloco a palavra na asa do poema

e faço o que mais quero:

vou na asa das palavras,

voo na alma do verso

e, sempre, que preciso,

futuro nas (a)venturas do signo.



      Mas essa relação da palavra com a libertada não se limita ao poema de abertura do livro. Ela permeia o livro, atravessando todo o trabalho como se fosse uma linha invisível a ligar versos e idéias. No poema Libertação, a recorrência de um dístico marca o ritmo dessa interação entre o uso das palavras e o desejo de liberdade.



Lá vem a palavra

Arrastando mais uma liberdade.



Consciente de que o ato de escrever é fruto não só da imaginação, mas também de intensas leituras de autores modelares que são absorvidos ao longo dos anos de contato com os livros, Sonia Almeida faz uma grande homenagem àqueles que sedimentaram seu caminho rumo a uma formação letrada. Desse modo, o poema R(d)eferência é muito mais do que um amontoado de nomes de escritores de títulos de livros, torna-se uma espécie de guia de leitura para quem também deseje mergulhar na mais genuínas águas literárias.

Em Palavra Cadente, livro prefaciado por Lygia Bojunga Nunes, a escritora continua envolvida com a metalinguagem, porém de forma mais contida. Contudo a relação com a palavra continua como um imperativo dos versos. Metaforizando a imagem da lua como reflexo do próprio ser humano que se metamorfoseia ao longo de seus ciclos e, em suas constantes mudanças, interfere na própria natureza, a autora trabalha constante jogos de palavras, com alterações sutis na forma que demandam imensas alterações no significados das palavras. Na leitura de diversos poemas, pesquisadora da Língua não consegue se esconder por trás da poetisa. Uma voz sempre alerta às questões vernaculares aproveita-se da poesia para trabalhar tanto a essência metafórica dos versos quanto as relações semânticas que se alteram com breves permutas de fonemas, como no poema abaixo.

A estrela esclarece

quem vem de encontro,

quem vem ao encontro,

de encontro a mim.



a estrela esclarece

quem vem ao encanto,

vindo contra mim;



quem vem de encontro,

quem vem ao encontro,

quem vem ao encanto,

quem vem contra mim.



A palavra esclarece.



            Em outros poemas a relação palavra-vida toma ares de essência vital para a existência do Ser. Não se entrega ao leitor/ouvinte apenas os versos impressos em uma página. Entrega-se um pouco de quem pôs nas palavras o transpor das emoções para o papel,  como pode ser visto em um dos últimos poemas do livro.



E eu me entrego no verso

quando o meu verso lhe entrego,

porque a palavra é feita dessa vida

mas o que eu faço é uma vida de palavra.

(...)

Porque se eu quiser morrer,

o meu desejo é feito de palavra.

Se eu quiser viver, basta querer

E a palavra faz.



            Em Há Fogo no Jogo, os elementos lúdicos do início do livro são aos poucos substituídos por vigorosas imagens que podem até mesmo confundir o leitor menos atento. O trabalho com a linguagem novamente deixa entrever, pelas frestas dos versos, a professora de Língua Portuguesa em constante trabalho com as armadilhas do idioma. As figuras de linguagem se multiplicam nas páginas e convidam a uma reflexão mais apurada. O leitor tem que ler os versos e também concentrar-se nos aparentes vazios textuais, afinal:



O silêncio é o calar, mas nem sempre o não-dizer.

Da mesma forma que a cinza pode estar quente,

o gelo pode queimar.



Sonia Almeida trabalha em todos os seus livros uma grande alegoria do Ser ou pelo menos da busca do Ser. E essa busca passa não apenas pelo sentir, mas também pelo dizer, pelo pôr no papel as alegrias e angústias do dia a dia. Na obra dessa autora, o crepitar do fogo e das chamas não se perde, ele ilumina palavra cadentes e tira da penumbra o vazio da existência humana.

Para Sonia Almeida, a palavra e o poeta estão imbricados e formam um todo que pode até se esfacelar, mas que não se perde. Como ela mesma declara:



Sob a tutela da palavra,

O poeta se livra.

Sob a condição da palavra

O poeta se escraviza...

Sob o jugo do verso, o poeta se faz.

Sob a servidão do verbo, o poeta é.











OBRAS DA AUTORA

Produção individual

·         Alegoria (prosa poética, 1992)

·         Tribuzi, Bandeira Poética de São Luís (ensaio, 1996)

·         Penumbra (poemas, 1998, com segunda edição em 2003)

·         Palavra Cadente (poemas, 2001)

·         Aula de Redação: uma viagem transdisciplinar (ensaio didático, 2004)

·         Há fogo no jogo (poemas, 2005)

·         Escrita no ensino superior: a singularidade em monografias, dissertações e teses (ensaio acadêmico, 2011)



Produção em coautoria



·         Linguagem

·         Ler para aprender

·         Anotações sobre linguagem