OS MURMÚRIOS DE MARIANA
Por José Neres
Não é de hoje que as letras
maranhenses se ressentem da quase total ausência de uma crítica literária
consistente e da falta de um resgate historiográfico dos inúmeros valores que
abrilhantam ou abrilhantaram as letras de um estado que já mereceu grandiosos
elogios por causa da produção
intelectual de seus inúmeros talentos literários.
Mesmo hoje, em pleno século XXI, com
toda a tecnologia de que dispomos, com os relativos progressos nos métodos de
pesquisa e com o hipotético interesse em divulgar as artes e a cultura em
geral, o Maranhão ainda se encontra bastante atrasado no que diz respeito à
divulgação e aos estudos de suas letras. Não obstante os esforços, às vezes
hercúleos, às vezes quixotescos, de alguns pesquisadores como Jomar Moraes,
Clóvis Ramos, Carlos Cunha, Rossini Correa e alguns poucos outros, as pesquisas
literárias com abordagens mais críticas ainda engatinham em uma terra onde o
que não faltam são nomes, obras e temas a serem pesquisados.
O resultado disso tudo é o quase total
esquecimento de alguns autores que muito contribuíram para a formação e para a
evolução literária de nossa terra. São inúmeros os nomes esquecidos que clamam por
alguém com tempo, conhecimento e disposição para resgatá-los do limbo do
ostracismo.
Um desses escritores que merecem
maior atenção por parte dos leitores e da crítica é Mariana Luz, poetisa “de
feição simbolista”, como muito bem lembrou certa vez Clóvis Ramos, e que
buscava “a arte pura em seus poemas”, como escreveu José de Jesus Moraes Rego,
em um dos raros estudos sobre a escritora, mas que também deixou suas
contribuições nos campos da prosa e do teatro.
Fonte da imagem: http://alvoradanoticias.blogspot.com.br/2011/12/itapecuruenses-notaveis-professora.html |
De toda a não muito vasta obra de Mariana
Luz, chegou até nós – principalmente por causa da modesta, mas importante
edição de 1990, impressa pelo Sioge – o
pequeno livro de poemas intitulado Murmúrios, uma obra composta por apenas 22
poemas, em sua maioria sonetos.
Mesmo tentado negar sua condição de
poetisa de versos tristes em dois textos dedicados ao poeta Leslie Tavares, em
um dos quais chega a afirmar que “para mim tudo é belo e sorridente”, o estro
poético da escritora desdiz suas palavras. Basta lembrar que vocábulos como
dor, sofrimento, lágrima e cadáver são bastante recorrentes ao longo de seus
versos. Poucos são os poemas do livro que não apresentam em sua composição pelo
menos uma das palavras supracitadas. Mesmo quando o título aparentemente remete
a algo alegre, como é o caso dos poemas “Amanhecer” e “Risos”, o desfecho leva
o leitor a uma reflexão sobre a triste condição humana.
O sofrimento é um dos motes mais
contemplados pela autora de Murmúrios. A escritora deixa bem claro em seus
versos que só “viveu e sabe dar valor à vida / quem palmilhou a estrada
dolorida.” No decorrer do livro, o leitor é facilmente levado a crer na teoria
de que bons versos são tirados do sofrimento. Mas fica também a idéia de que a
essência do sofrer pode ser disfarçada sob a máscara de uma aparente alegria.
Em vários momentos, a poética de
Mariana Luz remete a uma conexão intertextual com os versos do paraibano
Augusto dos Anjos, nem tanto pelo vocabulário carregado de termos científicos,
mas, principalmente pelas mensagens recheadas de reflexões sobre a vida e a morte,
bem como pelas descrições de cadáveres. Um bom exemplo disso é o soneto
dedicado à “Gracinha junto ao féretro de sua mãe”.
Mariana Luz tem ainda muito a dizer
a seus leitores. Uma edição crítica de sua obra seria boa oportunidade de a
nova geração conhecer a poesia de uma mulher que, mesmo sem inovações técnicas,
soube trabalhar a palavra de forma singular e que soube iluminar nossas letras
com a luz e com a força de seus versos.
Querido Neres,
ResponderExcluirÉ importantíssimo o trabalho que você já desenvolve há anos de divulgar a literatura maranhense, trazendo ao conhecimento das pessoas a obra de escritores como Mariana Luz. Parabéns!