LITERATURA PELO RETROVISOR DE 2012
José Neres
Quando
chega um final de ano, é hora de olhar para trás e ver o que ficou de bom e o
que pode melhorar para o ano seguinte. No âmbito literário, se 2012 não foi um
ano de grandes surpresas, ele também não pode ser acusado de causar decepções.
O
ano praticamente começou e terminou em clima de homenagens. De um lado eram
comemorados os 400 ano de fundação da capital maranhense, com direito a
lançamentos e relançamentos de livros, saraus literários, encenações de peças
teatrais (originais ou adaptadas de outros textos literários) e muitos outros
eventos que valorizaram o aniversário de São Luís. Do outro lado, em uma
louvável iniciativa da Academia Brasileira de Letras, o ano de 2012 foi também
dedicado ao bicentenário do jornalista, publicista e escritor João Francisco
Lisboa.
Grande
parte do cenário literário do ano foi ocupada pelo genial autor do Jornal de
Tímon, que teve sua obra comentada, debatida, estudada e revisitada por
diversos intelectuais, como, por exemplo, Jomar Moraes, Antônio Martins de
Araújo e Sálvio Dino. Em eventos sempre com bom público, a AML trouxe de volta
às prateleiras o livro “Notícias acerca da vida e da obra de João Francisco
Lisboa”, de autoria de Antônio Henriques Leal e, na mesma data, além de
inaugurar uma placa alusiva ao escritor, também, em parceria com a Editora do
Senado, também relançou o volume “O Tímon Maranhense”, de Arnaldo Niskier e,
para fechar as homenagens, foram entregues a diversas personalidades a medalha
do bicentenário de João Francisco Lisboa.
O
ano acadêmico foi de perdas e de ganhos, como sempre acontece. Houve o
falecimento do jornalista Neiva Moreira, mas também a posse de Antônio Carlos
Lima e de Natalino Salgado, bem como a eleição do Luiz Phellipe Andrés, além de
diversos eventos.
No
decorrer do ano, outras iniciativas merecem destaque. É o caso do Café
Literário, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado, sob o comando da
escritora Ceres Costa Fernandes. Aos poucos, o público, formado principalmente
por escritores, estudantes, professores e pesquisadores, foi se acostumando a,
na última terça-feira de cada mês, ouvir os relatos de alguém voltado para as
letras. Nomes como Joaquim Haickel, Zelinda Lima, Joila Moraes, Hidelberto
Barbosa Filho, Nauro Machado, Inaldo Lisboa e Ubiratan Teixeira, entre outros,
abrilhantaram o evento, que começou tímido em suas primeiras edições, mas que
agora está solidificado no calendário cultural do Estado.
Outro
projeto que também merece ser lembrado é o Papoético, idealizado e levado à
prática pelo professor e poeta Paulo Melo Souza. Além de conversas informais
sobre artes em geral, palestras e lançamentos de livros, ainda houve a
realização do 1º Festival Papoético de Poesia, que teve como grande vencedor o
poeta Rodrigo Pereira, com o poema “Ante o espelho”. O evento movimentou as
noites de quinta-feira na cidade.
O
Instituto Geia continuo na sua missão de levar a literatura às pessoas, seja
por meio do já tradicional Festival de Literatura que acontece em São José de
Ribamar e que, em 2012, contou com a participação especial da historiadora Mary
del Priori, seja com o lançamento e relançamento de livros essenciais para a
identidade do povo maranhense, como foi o caso, nesse de O pecado da Gula (Zelinda
Lima), A Ilha e o Tempo (Luiz Tavares) e Teatro Escolhido de Fernando Moreira
(organizado por Ubiratan Teixeira).
Há
de se destacar também o grandioso prêmio recebido pelo crítico e ensaísta Ricardo
Leão, que conquistou um dos mais importantes prêmios concedidos pela Academia
Brasileira de Letras. Premiados em outros eventos tivemos também José Ewerton
Neto e Ferreira Gullar.
Foram
muitos os lançamentos de livros realizados durante 2012. Alguns tiveram
concorridas sessões de autógrafo, outros ficaram apenas nos círculos de amizade
dos autores. Mas o futuro irá lembrar-se da qualidade dos textos e não da
quantidade de pessoas presentes ao evento. Vale destacar então alguns livros.
Memória dos Porcos (Ronaldo Costa Fernandes) o ótimo livro de poemas que
leva o leitor a refletir sobre cada página, sobre cada verso.
O Perdedor de Tempo (Dyl Pires) – Os poemas mostram um amadurecimento
temático da poética desse grande escritor e ator maranhense.
Contos, Crônicas Poemas e outras Palavras (Joaquim Haickel) - Uma
mistura de diversos gêneros em um único livro. Bons textos e boa produção
gráfica.
Poema da Diferença (Sonia Almeida) – Neste livro a autora mostra uma
nova faceta de sua produção literária o jogo metafórico que une o concreto e o
abstrato da nossa passagem pelo mundo
Província – O Pó dos Pósteros (de Nauro Machado) – Reunião de diversos
artigos de Nauro Machado, todos escritos em um estilo fluido e envolvente.
O Rio (de Arlete Nogueira) – O novo livro de Arlete Nogueira comprova
que ela é uma das maiores escritoras de nossas letras.
Pérolas ao tempo (de Rosemary Rêgo) – Menos introspectivo que o
anterior, o livro traz uma escritora mais madura e consciente do fazer poético.
Marcas Indeléveis (de Ahtange Ferreira) – Usando o receituário do best-seller,
a estreante escritora traz a luta de uma mulher por dias melhores.
Tear (de Quincas Vilaneto) – Excelente livro de poemas. Mistura metalinguagem
e visão particular dos ambientes retratado.
A Poesia sou Eu (obra completa de Luís Augusto Cassas em 2 volumes) – essencial
para quem deseja mergulhar na produção desse poeta. Além dos livros, traz uma
fortuna crítica que auxiliará leitores e pesquisadores da obra de Cassas.
Entre Viana e Viena (Lourival Serejo) – Ótimo livro de crônicas. Nesse
livro, Serejo mostra que há múltiplas formas de retratar um evento que às vezes
parece ter importância apenas para o cronista, mas que pode abarcar a todos.
Bastidores (Ubiratan Teixeira) – Livro que traz um pouco da movimentação
teatral do Maranhão nas últimas décadas.
Ana do Maranhão (Lenita Estrela de Sá) – Relançado trinta anos
depois. Esse livro é um marco no teatro maranhense.
Teatro Escolhido de Fernando Moreira – O Instituto Geia e o escritor
Ubiratan Teixeira fizeram um grande serviço à literatura trazendo á luz esse
importante volume com a obra de um escritor hoje esquecido
algo que também deve louvado é a fundação ou fortalecimento de academia de letras municipais, como
a Paçoluminense, a de Caxias, A Sambentuense, a Imperatrizense e tantas outras
que vêm se fortalecendo ano após ano. Com isso, esperamos, haverá uma maior divulgação
de valores locais e de suas obras.
Alguns eventos,
como o Salão de Livros de Imperatriz (Salimp) e A Feira de Livro de São Luís,
ganharam similares, como é o caso o do Salão do Livro de Coelho Neto e das
diversas pequenas feiras de livro que foram realizadas durante o ano. E a
Capital maranhense ganhou também uma livraria de bom porte em um de seus
shoppings, além da livraria Resistência Cultural, que vem ganhando espaço aos
poucos. Um avanço para uma cidade que viu diversas livrarias fechando as portas
nos últimos anos
Outra iniciativa
interessante foi a de alguns escritores de optarem pela publicação de seus
livros de forma alternativa, principalmente na internet, como fizeram o
professor João de Deus Vieira Barros, que publicou A Bala na Garganta de
forma digital e a maranhense radicada na Alemanha Helena Frenzel, que publicou
a coletânea 15 Contos Mais na internet, com a participação dos
maranhenses José Neres e Marcos Fábio Belo Matos. Além de blogs voltados para
as letras, como é o caso do Maranharte, administrado pelo pesquisador Flaviano
Menezes.
Algumas escolas contribuíram para a divulgação da literatura maranhense, convidando escritores e estudiosos das letras para encontros e palestras. Isso foi um marco significativo neste 2012 e certamente terá reflexos em um futuro bem próximo
O principal
problema para a literatura maranhense ainda é a falta de divulgação e de forma
de escoamento da produção para outros lugares. O livro lançado aqui raramente
alcança um público além das linhas divisórias do Estado. As divulgações
digitais estão quebrando um pouco essas barreiras, mas ainda falta muito a ser
feito. Outro obstáculo é a falta de uma crítica mais atuante no campo das
letras. Um livro é publicado e na semana seguinte cai no esquecimento, pois
falta um debate mais efetivo acerca do que é produzido aqui. Sem contar que as
livraria vem desaparecendo em uma velocidade impressionante.
Querido mestre. Que alegria ter meu livro citado entre tantos aqui no seu espaço, só tenho a agradecer o carinho e apoio.
ResponderExcluirMuito obrigada, abraços!