segunda-feira, 20 de julho de 2009

Carlos Cunha


O GARIMPEIRO DE TALENTOS

José Neres

No Maranhão, ano após ano, dezenas de pessoas encantadas com os laivos poéticos que possuem (ou que julgam possuir) juntam suas economias e, por falta de acesso às grandes editoras, custeiam o sonho da publicação de um livro. A obra quase sempre circula apenas entre familiares e amigos do autor e, em pouco tempo, transforma-se em um monte de volumes esquecidos em um cômodo qualquer da casa.

A dificuldade de divulgar os livros publicados e a indiferença dos escassos leitores são dois dos obstáculos com os quais os escritores devem conviver quando decidem publicar seus primeiros trabalhos. A divulgação na mídia geralmente é mínima e a concorrência do lançamento de livros com outros tipos de diversão é, sem dúvida, desproporcional. Somando-se a isso, temos também a ausência de uma rede de distribuição dos livros, o que acaba transformando o autor em um dublê de autor e vendedor das obras. Além de todos esses entraves, ainda há em nossa terra a falta de uma crítica especializada que se debruce sobre as obras dos autores estreantes. Assim sendo, o livro nem bem é publicado e já se transformou em algo de um passado distante.

Nas últimas décadas, alguns intelectuais decidiram dedicar parte de seu tempo para estudar os valores literários que se dispunham a expor seus trabalhos ao público. Alguns livros conseguiram uma boa projeção, como é o caso de “A Poesia Maranhense do Século XX”, do piauiense Assis Brasil. Outros esforços acabaram caindo no esquecimento e hoje são raramente encontrados até mesmo para pesquisa, como é o caso de “A Atual Poesia do Maranhão”, de Arlete Nogueira e de alguns livros de Clóvis Ramos. Mas quem realmente deve ser visto como grande garimpeiro de talentos nascedouros foi Carlos Cunha.

Além professor, folclorista, poeta, acadêmico e pesquisador Carlos, Cunha foi um incansável defensor das letras maranhenses. Ao longo de décadas, ele se prontificou a estudar criticamente as obras que eram publicadas. Autores que começam a caminhada rumo ao mundo das letras não ficavam no esquecimento e tinham seus trabalhos esmiuçados pelo olhar sempre atento do velho mestre. Desse modo, no livro “As Lâmpadas do Sol”, (de 1980), já é possível encontrar estudos sobre Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Roberto Kenard, Wanda Crisitina e Déo Silva, autores que somente alguns anos depois iriam ter seus nomes projetados para além dos limites da Ilha.

Atento a tudo o que acontecia no campo das letras maranhenses, Carlos Cunha, no mesmo livro, também estudava nomes como Bernardo Almeida, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi, José Maria Nascimento, Nauro Machado, Oswaldino Marques, Nascimento Moraes Filho, Lucy Teixeira e José Sarney, autores que já eram reconhecidos na época. Em outro livro, intitulado “No Porão da Eternidade” (de 1982), que não é totalmente voltado para a literatura, pois aborda personalidades também de outras áreas, o arguto crítico faz um passeio pela obra indianista de Gonçalves Dias; lembra o passamento de Erasmo Dias e analisa “Canção das Horas Úmidas”, o primeiro livro de poema de Arlete Nogueira da Cruz.

Anos antes, em 1974, o pesquisador maranhense já havia sido aclamado por seu importante trabalho “Poesia Maranhense Hoje/50 anos de poesia”, uma importante antologia de resgate dos poetas de nossa terra. Tais livros hoje são verdadeiras raridades, mas também são fontes para qualquer pessoa que se disponha a estudar a literatura maranhense.

Hoje, alguns anos após a morte do professor/poeta, sabemos que nem tudo o que foi garimpado por ele era ouro de verdade. Mas ele cumpriu com o seu dever de buscar pepitas de ouro onde outros só enxergavam um vazio literário.

6 comentários:

  1. Muito bom texto, infelizmente essa é uma realidade.
    Parabéns

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  2. Boa lembrança do professor Neres!... Carlos Cunha realmente foi um dos grandes representantes da Literatura Maranhense do seu tempo; foi grande escritor, jornalista e professor, um verdadeiro divisor de águas, de tal forma que hoje podem ser vistas duas Literaturas Maranhenses: uma contemporânea de Carlos Cunha e outra pós-Carlos Cunha. A mesma coisa aconteceu com o Jornalismo e a Educação no Maranhão. O professor José Neres está de parábens pelo bom texto e boas informações, pois soube TAMBÉM ser GARIMPEIRO de velhos mestres.

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  3. Sem dúvida, Carlos Cunha foi um dos grandes nomes de nossa intelectualidade. Pena que a memória do nosso povo seja tão limitada!

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  4. Meu caro Neres.
    Boa Noite.

    Primeiramente, por dever de ofício, agradeço a visita que fizestes ao meu site. Que bom que gostastes.
    Este teu espaço é de um valor inestimável. Parei aqui por algum tempo e devo adiantar que retornarei mais vezes para aprender um pouco mais.
    Mas você, com este texto sobre meu compadre Carlos Cunha (ele fora padrinho do meu filho) trouxe-me à mente muitas boas recordações. E muitas saudades...
    Receba um abraço
    João Batista do Lago

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    Quando tiveres um tempinho visite esta rede de relacionamento sobre a culturalidade maranhense:

    http://joaobatisdotalago.ning.com

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  5. Muito bom não tive a oportunidade de conhecê-lo(prof José Neres) mas ta de parabénss....

    sou aluna do ensino médio e foi mto satisfatório essa informação .. me ajudou bastante em um trabalho.....

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  6. Carlos cunha sou aluna do ensino fundamental e vou apresentar um trabalho sobre Carlos cunha uma satisfação para mim e meus colegas

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