domingo, 22 de novembro de 2009

SER PROFESSOR


UMA FRASE INFELIZ E SEUS QUESTIONAMENTOS
José Neres




Tenho e sempre tive muito orgulho de ter abraçado o magistério e de te a ele me dedicado de corpo, alma, papel e caneta nas últimas duas décadas. Até hoje nunca tive o menor motivo para lamentar o fato de ser professor. Adoro o que faço!


Por gostar muito de minha profissão e por fazer de tudo para honrá-la a cada minuto de minha atividade docente, sempre me preocupo com algumas situações cotidianas e observo atentamente comentários que parecem isolados, mas que podem esconder uma ideia bem maior. É por isso que me chamou a atenção uma frase dita por um colega à saída de uma escola, na semana passada.


A frase/depoimento do professor pode ser dividida em três momentos. Em dois deles, a mensagem é altamente positiva. Já no último há muito para ser questionado (e lamentado!).
Ele começa lembrando seu pai: “Meu pai é um verdadeiro herói. Nunca teve preguiça de trabalhar para sustentar a família”. Logo depois retorna à figura paterna com total admiração: “Ele, mesmo sem ter freqüentado escola, formou sete filhos. Todos nós temos hoje curso superior.” Finalmente, em tom de lamento, em um contrito mea culpa, desabafa:

Se hoje eu sou professor, a culpa não foi dele. Foi minha, que não me dediquei mais aos estudos...”

Depois de um silêncio e das despedidas, dirigiu-se para seu carro e foi embora, deixando para trás apenas alguns questionamentos.


1. Será que seu descontentamento é com a profissão ou com seu desempenho profissional?
2. Será que ele sente vergonha de ser professor, ou de estar professor sem se sentir devidamente preparado para a profissão?
3. Será que ele passa para seus alunos todo esse desânimo com relação à profissão?
4. Será que ele se assume como professor quando está distante da escola e dos colegas ou inventa uma outra profissão para se sentir satisfeito?
5. Será que ele seria um bom profissional em outra área de atuação, se, como ele mesmo disse. “tivesse se dedicado mais aos estudos”?
6. Será que ele já percebeu que seus bens materiais (carro, casa...) são resultados de seu trabalho em sala de aula, ou será que ele tem outra profissão e ministra aula apenas por diletantismo?
7. Será a questão financeira a única causa de ele ainda estar em sala de aula?
8. Será que não seria um momento de “dedicar-se um pouco mais aos estudos” e procurar outra profissão que fosse, para ele, mais digna e dignificante?
9. Qual seria a profissão a que ele se dedicaria, se não fosse a do magistério?
10. Quais seriam as profissões de seus irmãos?
11. Será que o pai não sente o menor orgulho da profissão do filho?
12. Será que, financeiramente, ele é o que menos recebe entre os irmãos?
13. Será?... Será?... Será?... Dúvidas... Dúvidas... Dúvidas...

Nenhuma resposta.


Mas, ao entrar em sala de aula, horas depois, algumas certezas vieram à minha cabeça: “Estou aqui porque gosto”, “Sou professor porque estudei (e muito!) para exercer minha profissão” e, principalmente, “Pessimismo não é algo contagioso”.

7 comentários:

  1. Nossa....que texto lindo:

    SER PROFESSOR....

    ass: Alice Lacerda

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  2. Professor Neres, não é novidade eu me surpreender, cada vez mais, com seus textos.
    Um beijo e fique com Deus!

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  3. Muito bom ler um texto desses. Grande parte dos professores, assim como dos jornalistas, demonstram certa frustração com a profissão, queixam-se demais.
    http://notasjudiciosas.wordpress.com/

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  4. Amei,simplesmente belíssimo, estou com saudades,tens um lugar especial dentro do meu coração. bj.

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  5. O texto mostra que muitos ainda acham que ser professor é mínimo, mas sem esse profissional, como chegar os conhecimentos de que tanto precisam para exercer qualquer profissão. Sempre será necessário ter um professor, seja ele virtual, para dar orientação na labuta do dia-a-dia. Seu texto Neres é maravilhoso.

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