segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ceres,Laura e Sonia

TRÊS MULHERES IMORTAIS

José Neres

Alguém ligado a curiosidades numéricas ficaria intrigado ao saber que, atualmente, a participação feminina na Academia Maranhense de Letras é de apenas 7,5% (sete e meio por cento). Essa mesma pessoa ficaria ainda mais impressionada ao saber que entre os aproximadamente 150 intelectuais que já ocuparam uma das cadeiras da AML, apenas oito são representantes do sexo feminino, o que reduz o percentual anterior para pouco mais de meio por cento.

Laura Rosa, Mariana Luz, Dagmar Desterro, Conceição Aboud Neves e Lucy Teixeira foram as escritoras que honraram o quadro acadêmico da Casa de Antônio Lobo com o brilho da inteligência e com a confecção de belos textos. Atualmente, entre os imortais há a presença de três mulheres que nada ficam a dever em termos de talento e ação aos demais trinta e sete imortais da casa. São elas, por ordem alfabética: Ceres Costa Fernandes, Laura Amélia Damous e Sonia Almeida.

Com uma vida de dedicação à vida universitária, a professora e ensaísta Ceres Costa Fernandes decidiu entrar também para o mundo das crônicas. Dona de um texto ágil e eivado de recordações e de ironias, a escritora faz em verdade uma mescla muito bem trabalhada de contos e crônicas, que levam o leitor a se divertir com lances aparentemente ficcionais, mas que podem despertar também sérias reflexões acerca das temáticas discutidas nos textos. Além das qualidades de cronista é preciso destacar também que Ceres Fernandes é uma pesquisadora de grande erudição, trabalhando com competência assuntos como a literatura na Idade Média e o Surrealismo associando a outras vertentes de estudo. Tudo isso contar que ela é reconhecidamente uma das grandes estudiosas da obra de José Saramago.

Laura Amélia Damous é uma poetisa que se preocupa em fazer de cada verso um uni-verso de palavras que não se contentam com o significado uno, mas sim que buscam a multiplicação dos sentidos nas malhas das diversas releituras possíveis feitas a partir de uma primeira impressão. Seus textos são geralmente sintéticos e tocam suavemente tanto em uma atmosfera de sensualidade, quanto em uma incessante busca pelo sentido do próprio ser diante das infinitas (im)possibilidades de um não-ser. Seus textos podem ser lidos como palimpsestos, nos quais cada camada pode esconder algo que não foi perceptível em uma leitura anterior.

A outra poetisa e ensaísta da AML é Sonia Almeida, uma escritora que acredita no incessante diálogo entre as palavras e a própria condição de existência do ser humano. Os poemas de Sonia Almeida geralmente trazem o cotidiano de forma poética, sem esquecer de que dentro da poesia também há espaço para questionamentos e mergulhos na essência humana. Seus textos, muitas vezes, trazem a consciência de um intertexto, de uma conversa constante com seus autores preferidos, sejam eles poetas ou pensadores das mais diversas linhas do pensamento. Ler os trabalhos de Sônia Almeida, em prosa ou em verso, é sempre um convite para mergulhar dentro de si mesmo ou nas páginas dos incontáveis autores que habitam cada pagina dos livros dessa escritora maranhense.

Como pode ser visto, essas mulheres imortais, não só por pertencerem a uma Academia, mas também por construírem obras de imenso valor demonstram que a Casa de Antônio Lobo está muito bem representada no cenário cultural da contemporaneidade.

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