segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

NOSSA BIBLIOTECA


Final de tarde... A Deodoro fervilha de gente. Cada pessoa anda muito mais dentro de si mesmo de seus problemas de que pelas esburacadas ruas do Pantheon. Em seus malabarismos diários entre a falta de calçamento digno e as poças de lama, mal dá tempo para erguer os olhos e procurar sinais de chuva no céu cinzento da Cidade. Parece que ninguém tem tempo para fixar os olhos no majestoso, mas combalido prédio que, para alguns, é um Centro do Saber; mas que, para uma multidão, não passa de um fétido mictório público a céu aberto.

Paro no meio da praça. Os poetas não mais estão ali para vigiar meus passos. Para compensar, hippies, camelôs de DVDs pirateados e um sem-número de pedintes enfeitam o cenário que outrora exalava sabedoria. Meus olhos se fixam nas paredes com pintura esmaecida pelo tempo e pelo descaso de todos. Mentalmente, entro na Biblioteca e folheio, um a um, os milhares de livros que tanto já contribuíram para o saber de meu povo. Eles que agora estão mudos, mas gritam silenciosamente de desespero, clamando que as portas sejam abertas, para que possam novamente sorrir com o brilho dos olhos das crianças. Algumas ali um dia descobrirão um mundo que vai além da tela do computador ou da televisão.

Viajo no tempo e me vejo caminhando entre as estantes e sentindo a textura da capa dos livros, sentindo o cheiro do conhecimento que emana dos volumes, dos jornais, das revistas... Um urubu sobrevoa o prédio, com se previsse sua morte iminente. Desperto para a realidade. O céu rapidamente escurece e as primeiras gotas de chuva, que parecem lágrimas escorrendo pelas gretadas paredes sem retoque. Sinto que a Casa chora de dor. Todos correm da chuva. Mas ela permanece ali. Firme no desejo de continuar vivendo. Firme no desejo de um dia ver-se livre dos horríveis compensados que a impedem de ser feliz.

Alguém esbarra em mim. Tenho que sair da chuva. A noite está chegando. Tenho certeza de que a noite cultural se prolongará por muito tempo. Sinto-me frágil, transparente, na impotência do nada poder fazer.

A tempestade cai, lavando as escadarias, que pelo menos até amanhã, estarão livres dos odores humanos...

Um comentário:

  1. Rita de Cassia P. Morais26 de março de 2010 às 08:25

    adorei vc,ter comentado sobre a biblioteca, precisamos fazer alguma coisa para que essa biblioteca volte a funcionar,ela é muito linda e não merece ficar assim,jogada ao vento.para que as crianças, possam conhece-la e aprecia-las com pesquisas,estudos que muitos iam lá para estudar por não ter um lugar tranquilo para estudar e procuravam a biblioteca para se reunirem com amigos para estudarem.Beijos!!!!!!!!!!!!!!

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