sexta-feira, 7 de maio de 2010

SOBRE LIVROS E ESCRITORES

Quem escreve, ouve...
José Neres
(O Estado do Maranhão, 06/05/2010)

            Toda  pessoa que se dedica à árdua tarefa de escrever, vez ou outra, se vê às voltas com algumas frases que, dependendo do estado e do nível de sensibilidade do escritor, pode levá-lo a uma explosão de ira, de riso ou até mesmo de lágrimas.
            As situações descritas a seguir, parecem inventadas, mas, infelizmente, são ditas por aí com uma frequência assustadora e, o pior, com impressionante ar de naturalidade.
            Para começar, temos uma cena que poderia acontecer em qualquer lugar onde houvesse um escritor e um hipotético leitor. Alguém comenta (ou aponta) dizendo que o fulano que se aproxima é o autor do livro Tal. A pessoa insinua um sorriso e, atabalhoadamente, tenta dar mostrar de conhecer os trabalhos do autor, que, muitas vezes constrangido, nem sempre encontra ânimo para dizer que o livro comentado com tanta euforia não é seu.
            Também não é incomum que o poeta, romancista, contista ou teatrólogo, ao encontrar alguém que leu parte de suas obras expresse sua admiração com uma das frases mais cruéis que alguém poderia dizer: “Nossa! O livro é seu mesmo? Foi você que escreveu?” O escritor fica sem saber se aquilo foi um elogio pela qualidade da obra ou se foi um questionamento sobre sua capacidade de escrever algo que prestasse. Na dúvida, prefere agradecer com um sorriso amarelo estampado nos olhos da incredulidade.
            Outra frase muito corriqueira aos ouvidos do escritor é: “Como eu faço para ganhar um livro seu?”, ou as variações: “E quando é que você vai me dar um livro?”, “Cadê meu livro?”, “Estou esperando meu livro! Não esquece!”, “Eu queria tanto ler o teu livro, mas ainda não ganhei nenhum.” Poucas são as pessoas que se lembram de perguntar onde o livro está à venda ou quanto custa o livro. Isso talvez aconteça porque a maioria das pessoas ignore que toda produção cultural tenha um custo e que não são raras as vezes em que o próprio autor é o financiador do projeto e que possivelmente tenha acalentado o sonho de um dia recuperar pelo menos parte dos recursos gastos, já que lucro ele não espera conseguir.
            Caso interessante foi o de uma senhorita que, conversando um amigo escritor, não teve o menor constrangimento em dizer para ele: “Passando pela livraria, vi um livro seu, mas nem comprei, não vou gastar dinheiro comprando um livro de um amigo que seu que vai me dar um ou pelo menos emprestar para tirar uma xérox”.
            Por falar em xérox, há aquelas pessoas que têm o descaramento de pedir autógrafo na cópia xerografada de um livro que foi lançado recentemente e que se encontra disponível para venda. Geralmente, quem faz isso age como se tal atitude fosse uma homenagem ao escritor.
            Temos também o caso em que alguém ganhou o livro do próprio autor, mas não se contenta em ter somente a obra e exige uma dedicatória. Quando, tempos depois, o escritor cai na asneira de perguntar se a pessoa gostou do livro, escuta invariavelmente: “Rapaz, ainda nem tive tempo de ler, mas assim que puder, eu leio”.  Houve um caso bastante interessante de um autor que distribuiu seus livros para os amigos mais íntimos em uma quinta-feira e, na terça-feira seguinte, encontrou seu livro disponível em um sebo, com uma marca de corretivo cobrindo a dedicatória que ele fez para um de seus grandes amigos.
            Não podemos esquecer aquelas pessoas que, quando são convidadas para um lançamento de livro, não perguntam nem mesmo o título da obra, vão logo para o seguinte questionamento: “vai ter um coquetel de graça para os amigos, não vai?”
            De qualquer forma, esses acontecimentos, que oscilam entre o trágico e o cômico servem para dar mais cor à vida do escritor ou, quem sabe, possam até se transformar em mote para novos livros.

7 comentários:

  1. Seria cômico se não fosse trágico. Imagino que o senhor ja´tenha ouvido algumas dessas frases. Na minha opinião, uma das piores é;"Eu queria tanto ler o teu livro, mas ainda não ganhei nenhum.”
    Se a pessoa queisesse mesmo ler a obra, teria comprado.
    Fico pensado se alguns dos nossos grandes literatos passaram por isso. Imagine o João Lisboa sendo abordado por um conhecido que solicita:"“Dar-me-ia essa sua obra literária sem ônus monetários para que eu pudesse apreciá-la”.

    Peço permissão para publicá-lo no Maranharte.
    Abraços.
    P.S. - Como vai a avaliação dos artigos?

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  2. Cômico se não trágico [2]...Nossa!
    Espero sinceramente quando editar um livro meu,que pessoas não interessadas na Arte estejam longe...
    Abraços, parabéns pelo espaço José Neres!

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  3. Olá,
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    Abraços.

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  4. Bom dia.
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... passando para conhecer o seu espaço.
    Gostei muito daqui, interessante.
    Certamente voltarei mais vezes.
    SWaudações Educacionais !

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  5. Bom dia.
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... passando para conhecer o seu espaço.
    Gostei muito daqui, interessante.
    Certamente voltarei mais vezes.
    SWaudações Educacionais !

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  6. Um povo sem cultura é um povo sem princípios!!! Falta leitura para para dar essa consciência aos nossos "leitores". Um grande abraço.

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  7. Boa noite,

    Tive o prazer de lê o seu livro, as 50 pequenas traições e achei bem interessante.
    Mas saudade mesmo,sinto das aulas na faculdade. Muita coisa pude aprender, pena que foi por pouco tempo.
    Agora irei ficar por aqui apreciando suas publicações.

    Abraços

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