segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

HUMBERTO DE CAMPOS

NOVOS CAMPOS PARA HUMBERTO
José Neres


            O sucesso e o reconhecimento público são, às vezes, duas figuras ingratas. Um dia sorriem para alguém e elevam essa pessoa ao auge da glória. No dia seguinte, sem motivo aparente, fecham a cara para o protegido e o relegam ao ostracismo momentâneo ou ao esquecimento total. Quando o sucesso é fruto apenas de um jogo de marketing, o reconhecimento vem de modo quase que imediato, assim com o silêncio tão logo cessem os interesses no artista. Porém, se pelo menos uma ponta de talento for a mola propulsora da carreira, pode até haver momentos de trevas e de silêncio, mas um dia o autor sai da escuridão e volta a ser tema de interesse.
            A vasta produção literária do maranhense Humberto de Campos viveu seus momentos de esplendor, quando ele era considerado um dos escritores mais populares do Brasil, e logo depois foi relegado ao limbo do esquecimento, com raríssimos textos sendo reeditados e com seu nome praticamente banido da literatura brasileira de grande ou médio porte.
            Agora, porém, neste início de século, os ventos parecem soprar favoravelmente para o cronista, memorialista, contista e poeta maranhense. Aos poucos, sua obra, ou pelo menos parte dela, começa a ser revista, reeditada e relida com olhares que vão além da idolatria cega ou do falso intelectualismo de quem entrou em contato apenas a crítica a respeito do autor, sem ter o trabalho de ler os textos produzidos pelo escritor. Ao mesmo tempo, as reedições de alguns livros de Humberto de Campos, umas em escala nacional, outras, infelizmente, restritas ao âmbito local, trazem a oportunidade de os novos leitores entrarem em contato com o estilo límpido e inquietante de um escritor que marcou diversas gerações.
            Nos últimos anos, algumas obras de Humberto de Campos voltaram para as prateleiras das livrarias. É o caso de “Carvalhos e Roseiras – figuras políticas e literárias”, cuja nova edição foi publicada pela Café e Lápis Editora; “A Sombra das Tamareiras – contos orientais”, volume reeditado pela editora Almádena; “As melhores Crônicas de Humberto de Campos”, livro organizado pelo professor Gilberto Araújo e que traz o selo da Global Editora. Também é possível hoje encontrar, em dois volumes, “O Diário Secreto” e, reunidas em um único livro as “Memórias” e as “Memórias Inacabadas”, ambos os títulos publicados pelo Instituto Geia, sob os auspiciosos cuidados do professor, crítico textual e acadêmico Sebastião Moreira Duarte.
            Por outro lado, além das reedições e coletâneas de textos de autoria de H. de C., podem ser encontrados também alguns estudos acerca da obra do poeta e memorialista maranhense. Embora a maioria dos trabalhos gire em torno da relação do autor com a psicografia, como ocorre com “A Psicografia ante os Tribunais – o caso de Humberto de Campos”, de autoria de Miguel Tiponi, e que já chega a sua sétima edição; “Humberto de Campos e Chico Xavier: a mecânica do estilo”, de Elias Barbosa; e do recentemente premiado estudo “Chico Xavier e o Caso Humberto de Campos”, de Félix Alberto Lima.
 Mas também há estudos que abordam outros aspectos da obra do autor de “O Monstro”, como ocorre no livro “A Crônica e seus diferentes estilos em Humberto de Campos”, de Roberta Scheibe, e dos ensaios “Humberto de Campos Vivo” e “Diário de um Enterrado Vivo”, ambos do já citado Sebastião Moreira Duarte e que estão enfeixados nos livros da Coleção Geia de Estudos Maranhenses.
O retorno de Humberto de Campos às discussões literárias, mesmo que ainda tímido, é uma prova de que o talento é uma forma de um autor manter-se vivo mesmo após anos de esquecimento.

3 comentários:

  1. Professor Neres, belo artigo, ótima lembrança, grato por divulgar a obra desse ilustre maranhense, incluindo o "Carvalhos e roseiras", que tivemos o enorme prazer de editar. Valeu.

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  2. Professor José Neres
    Parabéns pela matéria
    O que você acha dos livros de Humberto de
    Campos psicografados! Seguem seu estilo?
    Eu particularmente acredito.
    Um grande abraço

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  3. Linda matéria. Sempre vale a pena ler Humberto de Campos.

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