terça-feira, 18 de outubro de 2011

UBIRATAN TEIXEIRA

UBIRATAN TEIXEIRA EM SEU 
DIÁRIO DE CAMPO
José Neres


            Em seus oitenta anos de vida, Ubiratan Teixeira tem sido admirado como fecundo cronista, talentoso prosador, excelente crítico e notável teatrólogo. Todas essas características podem ser atestadas pelos diversos prêmios recebidos ao longo de uma vitoriosa trejetória de luta com as palavras escritas e, principalmente, pela leitura de sua vasta produção intelectual, que vai desde textos curtos para jornais até bem elaboradas obras de ficção, passando também por um livro voltado para o público infanto-juvenil e pelo essencialíssimo Dicionário de Teatro.

            Mas além de todos esses predicados acima mencionados,Ubiratan Teixeira deve ser visto também com importante testemunha dos principais acontecimentos culturais ocorridos no Maranhão desde a segunda metade do século XX até este início de século XX. Mas ele não se limitou a ser mais uma testemunha da história a guardar os episódios nas retinas e na memória. Ele tomou a decisão de compartilhar esse momentos com seus seus inúmeros leitores. Com isso, o conjunto de crônicas e artigos de UT pode servir de base para pesquisas ou para uma leitura mais aprofundada dos diversos momentos culturais cobertos pelo autor em seus textos semanais.

            Como o texto de jornal parece já nascer com data marcada para morrer, e o periódico que hoje está cheio de novidades será amanhã utilizado para inúmeros outros fins, que quase nunca têm relação com a leitura, a solução encontrada pelos cronistas para dar perenidade a seus textos é enfeixá-los em forma de livro. Foi isso que fez Ubiratan Teixeira, que reuniu 80 de suas crônicas/ensaios em um livro significativamente intitulado “Diário de Campo”  (Ética Editora, 2010).

            Teatro, exposições, artes plásticas, música, literatura e todo um universo cultural que gira em torno de São Luís e do Maranhão como um todo, mas que quase sempre é relegado a um segundo plano no olhar das autoridades e das pessoas em geral, contituem o epicentro dessa obra em que Ubiratan Teixeira mostra que ser testemunha da História não é sinônimo de ser passivo. Em cada página, o leitor entra em contato com importantes momentos de nossa cultura, com eventos que hoje são apenas lembranças (ou nem isso mais) na combalida memória de um povo que fecha os olhos para seus valores,  com nomes essenciais para o desenvolvimento das artes nas terras de Gonçalves Dias.

            Em 252 páginas de um livro que pode ser lido de um só fôlego ou saboreado aos poucos, sem preocupação com a ordem dos textos, o experiente cronista “passeia” pelo mundo das artes e conduz o leitor pelas encruzilhadas nem sempre bem iluminadas de nossa cultura. Dono de um estilo característico, que mescla um tom coloquial com boa dose de crítica e um olhar arguto sobre situações praticamente invisíveis para quem não está envolvido com o quase sempre desprezado mundo das artes, Ubiratan Teixeira não se omite de deixar suas impressões acerca dos fatos retratados, e isso dá um sabor especial aos textos, que deixam de ser meras observações e podem ser lidos como fragmentos de pensamentos de um dos mais privilegiados observadores de eventos que quase sempre são vistos apenas em sua superfície.

            “Diário de Campo” é um livro leve e denso ao mesmo tempo. Leve pela linguagem, pelo estilo do autor, que sabe pesar muito bem em cada crônica/ensaio bom humor e a acidez de um olhar crítico. Denso por tratar de temas que exigem reflexão a cada parágrafo e por deixar evidente que um assunto tão importante quanto a cultura quase sempre e deixado de lado em um Estado que deveria valorizar mais quem produz ou investe em arte.

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