RAIMUNDO
CORREIA: POESIA COMPLETA
José
Neres
(Professor
de Literatura)
Raimundo Correia (1859–1911) parece
ser um daqueles cultuados escritores que têm o nome lembrado em diversas obras
de cunho crítico e/ou didático, que se eternizaram pelo talento e pela
reprodução sistemática de dois ou três textos, mas que não conseguem
transformar essa admiração em leitura atenta de sua obra.
Em praticamente todos os livros
didáticos utilizados pelos alunos do ensino médio há sempre alguns parágrafos
situando o poeta maranhense entre os três mais importantes escritores do
Parnasianismo brasileiro, ao lado de Olavo Bilac e Alberto de Oliveira.
Geralmente há também nesses compêndios um esboço biobibliográfico do poeta,
seguido da transcrição de alguns seus sonetos mais populares – quase sempre Mal Secreto, As Pombas ou A Cavalgada
–, mas essas informações básicas nem sempre são suficientes para estimular nos
estudantes a leitura de outras produções de Raimundo Correia.
Mesmo que alguém se interessasse
pela produção poética do autor de Primeiros Sonhos, teria dificuldades de
encontrar no mercado livros que trouxessem mais textos desse poeta. E mesmo em
uma busca na internet, os admiradores do escritor esbarrariam na repetição dos
textos disponíveis para leitura, cerca de duas dúzias de poemas, quase sempre
os sonetos mais conhecidos. Essa recorrência aos mesmos títulos pode levar
alguém a pensar que Raimundo Correia fosse um escritor de poucas obras e de
talento limitado, o que não é verdade.
Recentemente, no entanto – pouco
mais de um século depois da morte do poeta maranhense – chegou às livrarias um
livro que tenta trazer de volta para o público leitor os poemas desse escritor
que foi efusivamente elogiado por críticos do porte de Manuel Bandeira e João
Ribeiro. Trata-se de “Raimundo Correia: Poesia Completa” (Café e Lápis Editora,
2012, 358 páginas), um livro que oferece ao leitor a oportunidade de entrar em
contato com 325 poemas de Correia, trazendo também notas explicativas que podem
ajudar a compreender alguns textos.
Para aproximar ainda mais o leitor
do sonetista parnasiano, Claunísio Amorim, responsável pela editoração, organização
e revisão, além de escrever a apresentação do livro, não se limitou a
reproduzir as centenas de poemas produzidos por Raimundo Correia, mas sim de
também transcrever as apresentações e prefácios presentes nas primeiras edições
das obras reunidas nesse volume.
Uma das grandes qualidades de um
trabalho como a edição de obra completa de um poeta é a oportunidade de
entrar-se em contato diretamente com a produção do escritor, e não apenas com
textos esparsos. Desse modo, o leitor pode chegar a algumas conclusões às quais
não chegaria se ficasse apenas na leitura dos teóricos ou dos poemas soltos.
Uma
das ideias solidificadas sobre Raimundo Correia e que pode ser questionada em
uma leitura mais atenta de seus poemas é a que se refere ao negativismo que
supostamente atravessa toda a sua obra. Embora fique evidente que o estilo do
autor seja carregado de certa dose de pessimismo, pode-se notar também que, em
variados momentos, ele despejava em seus versos um humor ácido, como, por
exemplo, no poema “Ideia Entomológica”, no qual um pseudo-poeta, ao levar a mão
à cabeça, no lugar de tirar idéia para um poema, só consegue encontrar um
piolho; ou ainda no soneto “A Uma Cantora”, no qual o eu lírico se vê gravemente
ferido pela voz de alguém que se diz cantora.
Os versos de Raimundo Correia são
bastante plásticos e, apesar de ficarem presos às formas parnasianas, trazem
algumas imagens que mesclam densidade filosófica e crítica social, como ocorre
no belíssimo poema intitulado “Diálogos”, no qual a terra, o trigo, a pedra e o
ferro são personificados e não perdoam o homem pelas atrocidades cometidas ao
longo dos tempos.
Poesia Completa de Raimundo Correia
é um livro para ser lido não apenas pelos apaixonados pelos versos do autor,
mas também por aqueles que acreditam que toda a obra do poeta parnasiano se
resume a apenas meia dúzia de poemas bem elaborados. Ele é muito mais que isso.
É um dos maiores poetas que o Brasil já teve. E hoje, mais de um século após
seu passamento, Raimundo Correia ainda demonstra ter muito a dizer em seu
universo poético.
Obrigado, Prof. Neres, pela lembrança. Belo texto. Claunísio Amorim Carvalho
ResponderExcluirSó pelo fato de o prof. acima ter se esmerado em analisar o poeta Raimundo Correia ja merece todo nosso apreço. Se não escrevesse nada além de "Mal Secreto", o poeta já deveria ser imortalizado. Li essa poesia mais de cinquenta vezes, e embora saiba-a de cor, sempre que posso leio-a. DS
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