segunda-feira, 14 de outubro de 2013

RAIMUNDO CORREIA: POESIA COMPLETA

RAIMUNDO CORREIA: POESIA COMPLETA
José Neres
(Professor
de Literatura)

            Raimundo Correia (1859–1911) parece ser um daqueles cultuados escritores que têm o nome lembrado em diversas obras de cunho crítico e/ou didático, que se eternizaram pelo talento e pela reprodução sistemática de dois ou três textos, mas que não conseguem transformar essa admiração em leitura atenta de sua obra.
            Em praticamente todos os livros didáticos utilizados pelos alunos do ensino médio há sempre alguns parágrafos situando o poeta maranhense entre os três mais importantes escritores do Parnasianismo brasileiro, ao lado de Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. Geralmente há também nesses compêndios um esboço biobibliográfico do poeta, seguido da transcrição de alguns seus sonetos mais populares – quase sempre Mal Secreto, As Pombas ou A Cavalgada –, mas essas informações básicas nem sempre são suficientes para estimular nos estudantes a leitura de outras produções de Raimundo Correia.
            Mesmo que alguém se interessasse pela produção poética do autor de Primeiros Sonhos, teria dificuldades de encontrar no mercado livros que trouxessem mais textos desse poeta. E mesmo em uma busca na internet, os admiradores do escritor esbarrariam na repetição dos textos disponíveis para leitura, cerca de duas dúzias de poemas, quase sempre os sonetos mais conhecidos. Essa recorrência aos mesmos títulos pode levar alguém a pensar que Raimundo Correia fosse um escritor de poucas obras e de talento limitado, o que não é verdade.
            Recentemente, no entanto – pouco mais de um século depois da morte do poeta maranhense – chegou às livrarias um livro que tenta trazer de volta para o público leitor os poemas desse escritor que foi efusivamente elogiado por críticos do porte de Manuel Bandeira e João Ribeiro. Trata-se de “Raimundo Correia: Poesia Completa” (Café e Lápis Editora, 2012, 358 páginas), um livro que oferece ao leitor a oportunidade de entrar em contato com 325 poemas de Correia, trazendo também notas explicativas que podem ajudar a compreender alguns textos.
            Para aproximar ainda mais o leitor do sonetista parnasiano, Claunísio Amorim, responsável pela editoração, organização e revisão, além de escrever a apresentação do livro, não se limitou a reproduzir as centenas de poemas produzidos por Raimundo Correia, mas sim de também transcrever as apresentações e prefácios presentes nas primeiras edições das obras reunidas nesse volume.
            Uma das grandes qualidades de um trabalho como a edição de obra completa de um poeta é a oportunidade de entrar-se em contato diretamente com a produção do escritor, e não apenas com textos esparsos. Desse modo, o leitor pode chegar a algumas conclusões às quais não chegaria se ficasse apenas na leitura dos teóricos ou dos poemas soltos.
Uma das ideias solidificadas sobre Raimundo Correia e que pode ser questionada em uma leitura mais atenta de seus poemas é a que se refere ao negativismo que supostamente atravessa toda a sua obra. Embora fique evidente que o estilo do autor seja carregado de certa dose de pessimismo, pode-se notar também que, em variados momentos, ele despejava em seus versos um humor ácido, como, por exemplo, no poema “Ideia Entomológica”, no qual um pseudo-poeta, ao levar a mão à cabeça, no lugar de tirar idéia para um poema, só consegue encontrar um piolho; ou ainda no soneto “A Uma Cantora”, no qual o eu lírico se vê gravemente ferido pela voz de alguém que se diz cantora.
            Os versos de Raimundo Correia são bastante plásticos e, apesar de ficarem presos às formas parnasianas, trazem algumas imagens que mesclam densidade filosófica e crítica social, como ocorre no belíssimo poema intitulado “Diálogos”, no qual a terra, o trigo, a pedra e o ferro são personificados e não perdoam o homem pelas atrocidades cometidas ao longo dos tempos.

            Poesia Completa de Raimundo Correia é um livro para ser lido não apenas pelos apaixonados pelos versos do autor, mas também por aqueles que acreditam que toda a obra do poeta parnasiano se resume a apenas meia dúzia de poemas bem elaborados. Ele é muito mais que isso. É um dos maiores poetas que o Brasil já teve. E hoje, mais de um século após seu passamento, Raimundo Correia ainda demonstra ter muito a dizer em seu universo poético.

2 comentários:

  1. Obrigado, Prof. Neres, pela lembrança. Belo texto. Claunísio Amorim Carvalho

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  2. Só pelo fato de o prof. acima ter se esmerado em analisar o poeta Raimundo Correia ja merece todo nosso apreço. Se não escrevesse nada além de "Mal Secreto", o poeta já deveria ser imortalizado. Li essa poesia mais de cinquenta vezes, e embora saiba-a de cor, sempre que posso leio-a. DS

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