segunda-feira, 6 de julho de 2009

UM AUTOR MARANHENSE

WALDEMIRO VIANA
José Neres
(Professor e Escritor)


Quem não acompanha de perto a produção intelectual dos autores contemporâneos costuma imaginar que nossa literatura vive apenas de um passado glorioso. Quando tais pessoas se referem aos romancistas de nossa terra, costumam citar apenas os clássicos canonizados pelo tempo: Aluísio Azevedo, Coelho Neto, Graça Aranha e, quando muito, chegam a falar em João Mohana, José Louzeiro, José Sarney e Josué Montello. Esses pseudo-conhecedores das letras maranhenses certamente desconhecem alguns prosadores de grande talento que estão publicando, como é o caso de José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Bento Moreira Lima, Arlete Nogueira, José de Ribamar Reis e alguns outros que se dedicam à difícil arte da narrativa longa.

Além dos romancistas acima citados, pode – e deve – ser lembrado também o nome de Waldemiro Viana, um dos mais talentosos escritores maranhenses do último quartel do século XX e do início deste novo milênio. Filho do ilustre intelectual Fernando Viana, Waldemiro herdou do pai muito mais que o sobrenome, herdou também o grande talento para trabalhar com as palavras e transformá-las em obra de arte.

Depois de brindar o público com os volteios picarescos do hoje cada vez mais raro “A questionável amoralidade de Apolônio Proeza”, o escritor trouxe à luz seu livro mais lido e mais comentado: “Graúna em Roça de Arroz”, um romance que merece todos os adjetivos elogiosos que já recebeu por parte da crítica. Não há como ler o livro sem se sentir dentro do turbilhão que envolve a vida de Marcolino e Celeste, os dois protagonistas da obra. A cada página, o leitor vai percebendo que as personagens mergulham em um abismo tramado pelo próprio destino e que dali não podem sair sem as sequelas e lacerações que marcarão para sempre seus corpos e suas almas. Capítulo a capítulo, o autor demonstra dominar a técnica narrativa e consegue prender seu público em um labirinto de surpresas capaz de despertar as mais diversas emoções.

As pessoas comuns são o assunto preferido do romancista maranhense. Ele não pretende, em suas obras, mostrar pessoas dotadas de poderes ou características que fujam à compreensão. É da simplicidade do cotidiano que ele retira o mote para suas produções, como pode muito bem ser atestado no bem-humorado “O Mau Samaritano”, obra que permite ser lida de um só fôlego por horas ininterruptas. Partindo de um fato inusitado, porém banal em nosso dia-a-dia, Waldemiro Viana consegue encaixar um bom número de interessantes episódios aparentemente isolados, mas que encontram ressonância no tronco principal da narrativa. Aos pouco, o que era um simples diálogo entre dois desconhecidos ganha dramaticidade e, oscilante entre o humor e perspectiva de uma tragédia, ganha novos e inesperados contornos.

Saindo do âmbito da narrativa, o escritor ludovicense, em seu mais recente livro, “Passarela do Centenário e Outros Perfis”, também prova que é um talentoso poeta. Em 47 sonetos, ele traça um pequeno retrato de seus confrades da Academia Maranhense de Letras e de outras personalidades. O livro pode ser visto com um pequeno álbum, no qual cada poema é um cromo colado na página com a perspicácia de um olhar sempre observador.

Enfim, entre poemas, romances e, certamente, muitos inéditos na gaveta, Waldemiro Viana é um desses homens que dignificam as terras maranhenses com o brilho de suas obras.

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