domingo, 15 de agosto de 2010

NOSSA LITERATURA


A LITERATURA INFANTO-JUVENIL NO

MARANHÃO – PARTE I
José Neres
(Jornal O Estado do Maranhão - 16 de agosto de 2010)


            Há quem considere as obras destinadas ao público infanto-juvenil como um trabalho de menor envergadura técnica e sem grande impacto na formação do cânone literário de um país ou mesmo de uma região. Para tais pessoas, quem se dedica a escrever para crianças e adolescentes nem mesmo deveria ser chamado de escritor, pois se limitaria a contar “estorinhas” sem profundidade temática e sem preocupação com a produção de textos mais elaborados.
            Na literatura brasileira como um todo, alguns escritores desmentem essas opiniões e demonstram que é possível produzir textos de qualidade para o público mais jovem, tratando os leitores em formação com respeito, contribuindo para seu desenvolvimento cognitivo, desenvolvendo a criatividade e fazendo a imaginação alçar voos sem limite. Esse é o caso das obras de autores como Monteiro Lobato, Ana Maria Machado, Orígenes Lessa, Maria Clara Machado, Maria José Dupré, Lygia Bojunga, Pedro Bandeira, Vinicius de Morais, Sylvia Orthof, Ruth Rocha, Ziraldo e tantos outros escritores que produzem ou produziram obras de excelente qualidade.
Cazuza, de Viriato Corrêa
            Quando o assunto é o Maranhão, há quem chegue ao cúmulo de afirmar categoricamente que não temos e nunca tivemos uma literatura infanto-juvenil. Tal afirmação pode ser creditada ao desconhecimento que temos de nossas próprias letras e à falta de divulgação dos escritores que se dedicam a esse gênero literário que nem sempre é bem visto pelos raríssimos críticos e historiadores da produção literária maranhense.
            Para começar, vale lembrar que o livro “Cazuza”, de autoria do maranhense Viriato Correa, escrito entre 1936 e 1937, é até hoje uma das obras mais lidas em todo o Brasil. Diversas gerações se encantaram com as aventuras e desventuras do menino Cazuza, que narra os diversos momentos da vida dos garotos do interior que começam a descobrir um mundo bem diferente quando passam a frequentar a escola. Além de ser uma obra de aventura, o livro de Viriato Corrêa desperta nos leitores a criança adormecida que há em cada pessoa. Não é raro o leitor se identificar nas páginas do livro e se ver diante da própria infância contada pela sensibilidade de um dos maiores prosadores da primeira metade do século XX.
            Também no início do século passado, Humberto de Campos, escritor que se destacou como poeta, contista, cronista e memorialista de excelente estirpe, dedicou parte de seu tempo a escrever para o público mais jovem, conforme pode ser visto no livro “O Miolo e o Pão”, organizado pelos professores Roberto Reis, Lúcia Helena Carvalho e Roberto Acízelo de Souza, que reproduzem em fac-símile o conto João Bobo, a história de um rapaz que é  humilhado pelos irmãos e pelas cunhadas, mas que foi agraciado com um poder mágico concedido por um peixinho de escamas douradas. Com o poder nas mãos, João Bobo castiga as pessoas que o exploravam e consegue o respeito da família. O tom moralizante do texto é uma das marcas mais recorrentes das primeiras obras destinadas à formação moral dos jovens e é claramente influenciada pelos contos clássicos da literatura universal.
            Josué Montello, um dos maiores nomes da prosa de ficção de todos os tempos nas letras brasileiras, também deixou suas marcas em páginas que tinham como público-alvo os leitores mirins. No entanto, as alentadas obras de Montello, principalmente seus romances basilares, como “Os Tambores de São Luís”, “Cais da Sagração” e “Os Degraus do Paraíso”, eclipsaram sua produção infanto-juvenil e fizeram com que a maioria dos  leitores não desse a atenção devida a obras como “As Aventuras de Calunga”, “A Cabeça de Ouro”, “O Carrasco que era Santo”, “A formiguinha que aprendeu a dançar”, “A Viagem Fantástica” e “O tesouro de Dom José”, textos curtos e de leitura agradável que podem servir para a formação de novos leitores, mas que, infelizmente, encontram-se fora de edição, constituindo-se em raridade bibliográfica.
            Além desses autores, muitos outros se dedicaram ou se dedicam a fortalecer a literatura infanto-juvenil no Maranhão, como veremos em breve.

2 comentários:

  1. Adorei o blog.Confesso que desconheço boa parte dos nomes citados no texto, excessão de Monteiro Lobato (quem não ouviu falar dele?) e Humberto de Campos, mas deste eu não cheguei a ler os livros infanto-Juvenil, e sim, seus poemas. Lindos!

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  2. Com vc aprendi que estudar , ler é cultural, algo que deve se tornar um hábito, obrigada por compartilhar teus estudos, isso me dá motivação para nunca parar e com estes conhecimentos posso compartilhar com meus alunos algo novo sobre a literatura maranhense.

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