quarta-feira, 13 de julho de 2011

E NO TEATRO...

LAMPIÃO E SEUS AMORES
José Neres
Fotos: Lindalva Barros

                Fica no ar sempre uma dúvida sobre o que seria necessário para se produzir um espetáculo teatral de qualidade. Algumas pessoas apostam em cenários exuberantes, cheios de recursos psicodélicos; há quem acredite que ter no elenco um ator de renome seja o suficiente; para outras pessoas, o mais importante é ter à mão um bom texto. E há tantas outras ideias que vagam de cabeça em cabeça sobre esse assunto ...
                Mas quem foi nesta terça-feira (12.07.2011) – acredito que o mesmo deva ter acontecido na quarta-feira – ao Teatro João do Vale percebeu que o ator, diretor e produtor cultural César Boaes, os integrantes do Grupo Alegria e Arte do Cidadão e seus  colaboradores optaram por uma fórmula muito mais simples, porém não menos eficaz: uma mistura de simplicidade, técnica, boa música, vozes afinadas, talento, bom texto e esforço coletivo.
                Luzes apagadas. Respirações ofegantes. Tensão. Expectativa de todos os lados. No palco, ainda com as cortinas fechadas, os atores tomavam suas posições tantas vezes ensaiadas. Na plateia, pessoas que decidiram deixar de lado tantos afazeres cotidianos e foram, sedentas, em busca de um pouco de diversão. Homens, mulheres, crianças, adolescentes. Pessoas anônimas e pessoas reconhecidas publicamente, como Ubiratan Teixeira, Joaquim Itapary, Márcio Vasconcelos e tantos outros. Todas irmanadas na expectativa do evento. Antes que a cortina subisse, uma voz preencheu o ambiente. Era a cantora Gerlene Ribeiro acompanhada do músicos e pelo Coral Viva Voz. As conversas e os celulares, num instante, perderam a importância, e a música imperou no ambiente.
                Sobe a cortina. Aos poucos, o enredo vai de desenrolando. O texto de Francisco Pereira da Silva, devidamente adaptado à situação e ao contexto sócio-cultural, vai revelando para o público um outro Virgulino Ferreira, um outro Lampião. Júlio César Fernandes, no papel do temível cangaceiro, e Ana Eva Martins, representado a espalhafatosa Raimunda Borborema, dominam o palco e hipnotizam o público. Não demora muito para que os cacos implantados no texto comecem a tirar boas gargalhadas da plateia. Na cena seguinte, Cleonice França, no papel da outra Raimunda, com seu jeito doce e meigo, começa a dividir a atenção do público. Vez ou outra os risos desaparecem, em respeito à bela e afinada voz de Gerlene Ribeiro, em suas inserções musicais.
                As pessoas mais atentas devem ter percebido que a simplicidade do cenário era um complemento estratégico para a simplicidade do texto e do enredo. O diretor, de modo muito inteligente, usou o recurso da simbologia e conseguiu que os atores transformassem arcos em cavalos, caminhos, asas, grades de prisão, canoa, etc. Prova de que a criatividade pode superar os apertados orçamentos e levar a imaginação do público a ver o invisível e a se envolver com o drama de cada personagem.
                Chega o fim da peça. Que não foi simultâneo com o fim do espetáculo. Pois o público, satisfeito com o que viu, ouviu e sentiu, se levantou e aplaudiu de pé por vários minutos. Atores, músicos, diretor, demais colaboradores e a plateia exibiam sorrisos de contentamento.
                Realmente, não existe uma receita para fazer um bom espetáculo, mas Boaes e todos os seus colaboradores mostraram para centenas de pessoas que o talento e aq boa vontade fazem parte da fórmula. Todos estão de parabéns.


 FICHA TÉCNICA
Diretor: César Boaes
Texto: Francisco Pereira da Silva
Título Original: O Trágico destino de duas Raimundas ou Os dois amores de Lampião antes de Maria Bonita e só agora revelados.
Elenco: Ana Eva Martins (Raimunda Borborema); Cleonice França (Raimunda Jovita); Júlio César Fernandes (Lampião); Jeremias Ribeiro (Navalhada); J. R. Alves (Coronel Piranhas); Éder Cruz Luna (Padre Cícero); Celso Antônio (apresentador); Suzete Martins (Mulher 1/Diodora); Lívia Oliveira (Mulher 2); Sergiane Moraes (Maria Bonita); Nelzi Avelar (Mulher 3); Domingas Santos (muher 4)
Coral Viva Voz
Regente do Coral: Ronaldo Ribeiro
Cantoras Convidadas: Gerlene Ribeiro (terça-feira) e Vanessa Furtado (quarta-feira)
Iluminação: Oscar Castro
Músico convidado: Walter Rodrigo

OBS: Os atores e demais envolvidos na peça são funcionários do Viva Cidadão.

2 comentários:

  1. Professor, é com grande satisfação que agradecemos as suas palavras, sabedores que somos da importância da sua presença, bem como da sua família na plateia. Sua crítica nos deixa muito lisonjeados e isto nos impulsiona a fazer ainda mais um teatro de qualidade, embora com poucos recursos!
    Temos o prazer de compartilhar uma boa notícia, fomos convidados a encerrar o festival internacional de teatro que será realizado em Teresina no mês de agosto.

    Abraços!
    Ana Eva Martins

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  2. Como já comentei anteriormente é uma grande satisfação ler suas críticas com relação aos nossos esforços em relizar, o fazer, arte em nossa cidade.Sua presença, assim como da minha querida professora Lindalva Barros e seus filhos(já temos esepctadores para o futuro) na plateia do do Teatro João do Vale e foi de suma importância para o elenco do espetáculo.Agredecemos os seus comentários.
    ps: fomos convidados a encerrar o Festival internacional de Teatro dos países lusófonos que se realizará,no mês de agosto em Teresina.Júlio César Fernandes

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