terça-feira, 12 de julho de 2011

PARA QUEM GOSTA DE SE APROPRIAR DE IDEIAS ALHEIAS...

A TRISTE PRÁTICA DO PLÁGIO
José Neres
(O Estado do Maranhão, 12 de julho de 2011)

Fonte da imagem: internet (sem plágio)
               Preguiça?  Deficiência intelectual? Busca de facilidades? Certeza de impunidade? Ingenuidade? Falta de orientação? Ou um atávico pendor para a prática de furtos generalizados em todos os graus? Não se sabe ao certo a gênese ou o DNA dos inúmeros plágios que infestam os trabalhos (?) acadêmicos em nossas universidades e faculdades.
               É preciso sempre lembrar que plágio escolar/acadêmico não é novidade. Ele vem desde o tempo em que os estudantes copiavam páginas e mais páginas de livros, revistas, enciclopédias e alegavam que o resultado daquela bricolagem era um trabalho digno de nota. Mas pelo menos podia-se dizer que, durante o ato de transcrever o texto, o aluno acabava assimilando parte do conteúdo e, dessa forma, havia algum tipo de aprendizagem.
Hoje, no entanto, com as inúmeras facilidades oferecidas pelo mundo virtual, os atos de localizar, selecionar, copiar e colar tornaram-se tarefas praticamente automáticas, que, em muitos casos, dispensam a leitura integral do texto. Em alguns cliques, uma pesquisa que levaria dias, semanas ou até mesmo meses, se solidifica em forma de texto. Há casos em que o plagiador faz uma montagem tão esmerada que é capaz de enganar até mesmo os mais atentos leitores. A maioria, porém, tudo que consegue fazer é  um Frankstein, no qual as partes não se encaixam. De qualquer modo, bem ou mal feito, esse tipo de texto não passa de plágio, de apropriação indébita de ideias, palavras e de trabalhos alheios.
As notícias de que alguns desses infratores foram pegos e, às vezes, desmoralizados acabam por alertar os plagiadores mais atentos, que, temerosos de que seus “trabalhos” sejam rastreados por ferramentas e programas específicos, tentam ludibriar os examinadores com substituição de palavras por sinônimos ou com inversão dos termos de algumas orações. Dessa forma, se o professor não ler com atenção o texto e se confiar tão somente nos recursos eletrônicos para a detecção de plágios, acabará chancelando com notas, às vezes, altíssimas a incompetência e a preguiça do “estudante”.
                O professor, quase sempre um semianalfabeto nas lides com os instrumentos tecnológicos, e, às vezes, também um emérito plagiador, é até capaz de ficar feliz com as notas obtidas por determinados alunos. Inocentemente, ele pode até pensar que a educação está melhorando, que aqueles estudantes estão assimilando melhor os conteúdos ensinados. Em outros casos, o mestre até percebe a enganação, mas, ou por não ter provas ou para não se indispor com os plagiadores, acaba compactuando com a situação.
                Contraditoriamente, nos casos em que o plágio é detectado e o(s) culpado(s) são chamados para uma conversa (quase sempre reservada), o que se vê não é uma atitude de vergonha por haver cometido um crime, nem o constrangimento de ter(em) sido pego(s) em uma situação delituosa, legal e moralmente condenável. O que se vê quase sempre são atos de revolta contra quem descobriu a fraude. A inversão de valores dos plagiadores chega ao extremo de deixar a impressão de que o crime não é apropriar-se do trabalho alheio, mas sim descobrir que isso foi feito. Diante das provas, o ódio geralmente é mais forte que a vergonha.
                Para piorar a situação, ainda há os casos de quem vende trabalhos prontos, quase sempre uma montagem grosseira de diversos textos. Quando na redação são detectadas as fontes, quase sempre o comprador, que se julgava esperto por adquirir um trabalho especialmente feito para aquela situação, descobre foi vítima de outros elementos ainda mais espertos, que jamais perderiam seu tempo fazendo pesquisas sérias para quem não sabe o que significa seriedade.
                Realmente não é possível saber de onde vem a motivação para plagiar. Mas não é tão difícil prever seus resultados: profissionais desqualificados que, possivelmente, diante de uma situação desafiadora, não terão capacidade de resolver nem mesmo os problemas mais simples. Trabalhos podem até ser comprados ou copiados, mas a competência é uma exclusividade de quem estuda. 

Um comentário:

  1. Infelizmente, o plágio é uma prática muito comum nas escolas e nas faculdades. Há quem defenda que uma "pedagogia da facilidade", infiltrada nas escolas nas últimas décadas em oposição ao ensino tradicionalista, teria "viciado" os alunos em obter tudo da forma menos trabalhosa possível.
    Talvez esse "vício" se deva também à falta de treino em pesquisa, que ocorre em parte pela orientação deficiente que o aluno teve ao longo de sua vida escolar, tanto de pais quanto de professores, mas também por alguma falta de vontade própria. A única vontade que o plagiador tem é de se ver livre do trabalho, e não de aprender com ele.

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