sábado, 3 de janeiro de 2009

A VIDA PEDE PASSAGEM


"Ai, desgraça de ser mãe, pobreza maior seria não ter filhos! (Mia Couto)




Minha intenção hoje era escrever sobre o mais recente livro do grande escritor moçambicano Mia Couto - Venenos de Deus, Remédios do Diabo. No entanto, uma pequenina joia de pouco mais de cinquenta centímetros e pouco mais de quatro quilos me fez mudar de ideia imediatamente.

Ela já era esperada há meses e meses, mas parece que sempre adiava a data de conhecer esse nosso ingrato mundo. No aniversário da mãe, 22 de dezembro, mandou um recado tímido, mas deixou claro que não estava disposta a compartilhar uma data tão especial com mais ninguém da família. No Natal, anunciou que sua vinda estava bem próxima. Não veio! Na passagem de ano, ensaiou passar o réveillon com os familiares dos quais só conhecia as vozes. Achou melhor deixar todos na espera! O aniversário do pai, 1º de janeiro, parecia um momento mais que apropriado para sua chegada... Mas ela não queria mesmo interromper as comemorações de ninguém!

Passadas as festas, no final de noite do segundo dia do ano, ela decidiu que já estava cansada do interno aconchego materno. Decidiu também verificar se aquelas vozes tantas vezes ouvidas correspondiam às suas expectativas. Esperou um pouco mais e, caprichosamente, se espreguiçou no ventre da mãe. Alheia à ansiedade dos parentes e à burocracia das maternidades, ela chegou à conclusão de que era chegada a hora. Mas ela é caprichosa e não quis vir ao mundo sem uma boa dose de trabalho que valorizasse sua presença. Esperou, esperou, esperou... Até que, logo após às oito da manhã, com o sol como astuto abre-alas, ela chegou para iluminar a vida de seus pais e de todos os seus familiares.

Sara veio ao mundo com (e como) o sol, para mostrar que um novo dia está nascendo, que um amanhã ainda virá, que há um futuro pela frente.

Sara está bem, nossa reduzida família está em festa e minha querida irmã está feliz com sua pequenina deusa de mãos pequeninas, bochechas enormes, pele rosada e choro possante. E se todos estão felizes, a literatura pode esperar. Os livros podem esperar. Mas a vida não pode ser deixada para depois, não pode ser procrastinada, não pode ser esquecida... Nunca!

Se, amanhã, minha irmã perceber que os problemas são enormes e que nem sempre a sorte lhe está sorrindo, ela pode ter a certeza de que tem uma família, uma filha e que tudo, todas as chagas, na hora certa, para sempre Sara!

9 comentários:

  1. Gostei do texto... Bastante sensível. (Lu Barros)

    ResponderExcluir
  2. Amei o texto... Muito criativo... Que homenagem maravilhosa a pequena Sara.(Roberta Oliveira)

    ResponderExcluir
  3. Amei o texto...Nossa que homenagem maravilhosa à pequena Sara.(Roberta Oliveira)

    ResponderExcluir
  4. Amei o texto...Que homenagem maravilhosa à pequena Sara... Tão delicada, tão emocionante.(Roberta Oliveira)

    ResponderExcluir
  5. Amei o texto e a Sara é linda...Mais uma mulher na sua vida.

    ResponderExcluir
  6. Linda de mais... Gostei muito (Lya Soares)

    ResponderExcluir
  7. Parabens a Sara por ter essa homenagem linda. Neres o texto é lindo.

    ResponderExcluir
  8. LindoOo texto... Mais não podia ser diferente, afinal de contas, é obra de José Neres!!! :)

    ResponderExcluir
  9. Muito bonito o texto, feito por um pessoa com as qualidades não poderia ser diferente.

    ResponderExcluir