sexta-feira, 20 de março de 2009

UM ADEUS

O ÚLTIMO ATO
José Neres




A vida é uma grande peça de teatro com múltiplas personagens, cenários infinitos e um texto às vezes longo, às vezes curto, mas sempre cheio de surpresas. Porém, por melhor e mais cheio de peripécias que seja o enredo, ele sempre assume contornos de tragédia nas cenas finais. Ou pelo menos de um drama sempre esperado, mas, sempre que possível, protelado.


Não. Não estou escrevendo sobre teatro, mas sim sobre um homem que trazia o teatro no coração. Escrevo sobre uma pessoa que durante sua não muito longa vida representou diversos papéis, sempre com a devida competência. Quase sempre era professor, mas também era excelente cozinheiro, talentoso ator, competente diretor teatral e, principalmente, um amigo sempre bem humorado e cheio de frases de efeito e de palavras que alegravam a todos.


No dia dezenove de março, nosso amigo Antônio José Moscoso Maia terminou a última cena do último ato de sua vida. Foram tantos atos, tantas cenas, tantos momentos em tantos cenários que nem mesmo ele seria capaz de lembrar-se de todos eles.


Moscoso era uma pessoa tão especial que mesmo na ausência estava presente. Inúmeras vezes ele não pôde comparecer a algum evento. Contudo, nós, seus amigos de todas as horas, nos divertíamos contando ou recontando muitos de seus casos, quase sempre hilariantes. Mas havia a certeza de que horas depois ele também estaria gargalhando conosco. Hoje essa certeza acabou.
Seus chistes, suas tiradas, suas brincadeiras e seu jeitão estabanado, seus indefectíveis

suspensórios e, infelizmente, suas constantes baforadas de cigarro eram suas características mais comentadas. No entanto, ele era bem mais que esses meros detalhes. Era um ser humano capaz de sofrer com o sofrimento dos amigos e incapaz de dividir as próprias dores, para não preocupar quem estivesse a seu lado.


Moscoso era um homem gentil vestido com uma invisível capa de sisudez que só enganava quem não tinha coragem de se aproximar para aproveitar o bom-humor que emanava de suas incontáveis histórias.


E tais histórias agora serão recontadas por nós que ainda estamos atuando em nossas peças individuais. E elas irão ecoar ainda por muitos e muitos anos em nossas conversas, em nossas lembranças.


Nesta última cena, quando o som cavo da terra ecoa na lápide e quando o silêncio só é quebrado pelos soluços de saudade, não há risos nem palmas, há sim, saudade, muitas saudades, infinitas saudades!

12 comentários:

  1. Pôxa, me arrepiei!!!!!
    Tantas palavras que condizem tudo que representou e representa esse inesquecível amigo.

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  2. Acho que você tirou todas as palavras do fundo do meu coração e as colocou no seu blog, sobre nosso querido Moscoso. Obrigada por conseguir fazê-lo, eu andava engasgada tentando expor meus sentimentos, e você professor querido, as fez com perfeição...

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  3. Obrigado Edinny e novamente obrigado, Tiago. São palavras sincera para um amigo de tantos anos.

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  4. Que texto mais lindo...chorei!
    Chorei,quando lembrei que a saudade faz o passado transceder seus limites para tornar-se um fiel compnaheiro do presente.
    Chorei..ao perceber que essas palavras ecoam dentro de mim me trazendo lembranças,sejam elas de perdas fatais ou não.
    Chorei de saudade de um pai que faz falta em minha vida!Porque qualquer pronúncia da palavra ''adeus'' me lembra ele.
    E se eu aprendi alguma coisa nesses anos todos é que a saudade faz da gente um vencedor,não um vencido.
    Abraço professor,

    Alice Lacerda.

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  5. Que texto mais lindo...chorei!
    Chorei,quando lembrei que a saudade faz o passado transceder seus limites para tornar-se um fiel compnaheiro do presente.
    Chorei..ao perceber que essas palavras ecoam dentro de mim me trazendo lembranças,sejam elas de perdas fatais ou não.
    Chorei de saudade de um pai que faz falta em minha vida!Porque qualquer pronúncia da palavra ''adeus'' me lembra ele.
    E se eu aprendi alguma coisa nesses anos todos é que a saudade faz da gente um vencedor,não um vencido.
    Abraço professor,

    Alice Lacerda.

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  6. Cicera Costa

    Há pessoas que morrem e as que se encantam. e ele se encantou e nos encantou com as confissões de sua alma. Jamais pensei que ele fosse partir com tanta brevidade, esmagando nossos corações.Todas as explicações sao pequenas demais para saudade tão grande
    Um Abraço, Neres.

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  7. Cícera e Alice, obrigado pelos comentários. A vida continua mesmo com a saudade dos amigos (ou parentes) e temos que conviver com as ausências físicas. Um abraço para as duas.

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  8. de karla mariana....
    Falar de um lustre e mestre como foi moscoso, não é nada fácil porque ele tinha visão de águia e uma inteligência inestimável referindo a todos os ângulos. Um ser que não há palavras para descrever o quanto ele era amigo e companheiro.
    neste momento só sobram memórias que ficarão no coração, na alma, na mente desta aluna, que infelizmente não pôde sugá-lo o máximo que devia...
    Mas posso dizer que valeu a pena ter sido amado por mim e por meus colegas.
    E é isso que prevalece no meu íntimo como ser.
    Um abraço carinhoso, professor.

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  9. Que poesia falar da partida,da dor de forma tão prazerosa principalmente de alguém TÃO ESPECIAL,como foi o nosso grande amigo e Professor Moscoso, consegui até mesmo imaginar cada um destes detalhes e sentir uma grande alegria em saber que ele estará para sempre no palco de nossas vidas!

    Um abraço e minha doce saudade, Mestre!

    Antonia Moura

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  10. saudades de um ilustre docente que faz falta no nosso meio academico... lembranças ilegiveis...
    do seu aluno yargo

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  11. Prof. Neres
    Você nesse texto manifestou o sentimento mais profundo de todos os que tiveram o prazer de conhecer o professor Moscoso.
    Você tocou fundo.

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