domingo, 24 de maio de 2015

O QUE IMPORTA AGORA TANTO

OS FLASHES POÉTICOS DE FÉLIX ALBERTO LIMA

José Neres



            Alguns grandes nomes da literatura mundial como, por exemplo, o romano Catulo e o brasileiro Manuel de Barros nos ensinaram que a Poesia pode estar entranhada até mesmo nas coisas mais simples da vida, cabendo ao poeta a missão de traduzir em palavras aquilo que nem sempre é visível para quem encara o mundo apenas com os olhos do pragmatismo. A Poesia está em todos os lugares e às vezes grita para ser encontrada, para sair do campo das ideias mostrar-se ao mundo em forma de palavras.
            Mas nem todos têm a sensibilidade enxergar pelas frestas do cotidiano e dali extrair a seiva necessária para transformar breves observações em obra de arte. Felizmente, para o bem do mundo, algumas pessoas andam por aí atentas aos sussurros da Poesia e conseguem, em poucos versos, em poucas palavras, transformar momentos efêmeros em eternidades. Para felicidade, nossa um dessas pessoas é o maranhense Felix Alberto Lima, recentemente publicou seu livro “O que importa agora tanto”.
            Logo ao pegar o livro, o leitor sente logo o cuidado gráfico da Editora 7Letras, com uma diagramação leve e que visa a valorizar o texto sem cansar os olhos de quem se propõe a ler a obra. Na orelha, no prefácio e na contracapa, nomes consagrados como Zeca Baleiro, Salgado Maranhão, Antônio Carlos Secchin, Domício Proença Filho e Geraldo Carneiro saúdam o jovem autor e passam suas impressões a respeito do estro poético desse jornalista e pesquisador que já enveredou por tantos caminhos nas letras, mas que somente agora decidiu mostrar ao público seus versos.
            Mas é preciso ir além da perigrafia textual para que o leitor perceba que os elogios que cercam o volume não são meras formalidades. Ao passar as páginas, pode-se perceber que os poemas enfeixados por Felix Alberto Lima no livro, apesar de apresentarem algumas irregularidades, primam pelo senso estético e estão eivados de qualidades poéticas de alto nível, rendendo excelentes páginas poéticas carregadas daquelas características fundamentais preconizadas por Ezra Pound: as imagens poéticas (fanopeia), a ênfase na sonoridade (melopeia), sem deixar de lado os aspectos intelectuais da poesia (logopeia).
            Uma das principais características de “O que me importa agora tanto” é a preocupação com o uso das palavras em busca da melhor solução poética para a ideia que tem que se transformar em verso. Desse trabalho com a linguagem surgem páginas antológicas em que a simplicidade das palavras contrasta com a complexidade de algumas imagens poéticas, como, por exemplo, no poema Passe Livre, (mais de sessenta anos de idade / uma vida inteira de altruísmo / e olha ele ali ainda / na fila da felicidade), no qual o poeta mostra ao leitor mais do que as palavras dizem e, em uma junção do título com o corpo do poema deixa para o leitor diversos questionamentos que só podem ser respondidos com um mergulho na realidade que se esconde por trás das palavras.
            A sensualidade é outra marca do livro. Em poemas como Fetiche (não sei se ela finge / nas noites de gueixa / ou nas tardes de esfinge), Voyeur (por trás da persiana / há uma mulher de lingerie / tocando-se à paisana) e em alguns outros, o jogo de esconder é a principal arma do poeta para descrever cenas que podem despertar a imaginação do leitor sem necessidade de apelar para a descrição explícita da beleza da cena.
            Muitas outras temáticas podem ser encontradas nesse livro de Félix Alberto Lima, que, como afirmou Salgado Maranhão no prefácio da obra, age como uma espécie de “flâneur da vida banal”, a passear poeticamente por diversos recantos e retirando de acontecimentos aparentemente comuns a matéria-prima para a construção dos poemas que compõem o livro. No meio de abordagens sociais, temas existenciais e de críticas ao cotidiano, o poeta ainda encontrou espaço para diversas incursões na metalinguagem, explicando que escreve “como / quem caminha / pelo tempo / no centro da cidade”, e ainda por cima explica um estilo em que: “sem par / não faço / poesia / com a / mão / apenas / fricção.”

            Sem dúvida, o já aclamado pesquisador e jornalista Félix Alberto Lima entra no mundo da Poesia pela porta da frente, sabendo que no mundo das artes, tudo importa, e tudo pode ser traduzido em versos.

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