Resenha:
UM MISTÉRIO EM ITAPECURU
José
Neres
(Professor,
escritor e membro da Academia Maranhense de Letras)
No caso do Maranhão como
praticamente em todo o Brasil, as cidades que têm uma, às vezes, efervescente
vida cultural, veem quase todos os esforços de seus produtores toldados por uma
nuvem de descaso por parte da maioria das autoridades constituídas, de silêncio
por parte da imprensa local e pela indiferença de um público-alvo que nem
sempre atende aos desesperados clamores dos artistas locais.
Por essas razões, e por muitas outras,
possivelmente nem todos os leitores e até mesmo pesquisadores da literatura
maranhense, não conhecem o pequeno romance “O Mistério da Casa de Cultura”
publicado há pouco tempo pela jovem e talentosa escritora itapecuruense Samira
Diorama da Fonseca.
A trama do livro segue
deliberadamente a trilha de mistério e investigação que anda tão em voga
atualmente e que tem em Dan Brown um de seus principais ícones para uma nova
geração de leitores que começa a tomar gosto pela leitura de textos literários.
O corpo de um jovem é encontrado dentro da Casa de Cultura de Itapecuru,
levando as pessoas da cidade e, principalmente, os amigos mais próximos do
falecido a uma grande comoção. Poderia ser apenas mais um jogo de intrigas para
tentar-se descobrir quem é o autor de um crime que ficou encoberto por uma
hipótese de suicídio.
Sem muito esforço o leitor logo é
conduzido para a descoberta tanto do mandante como do executor do assassinato. Não
reside aí o mistério de que fala o título do livro, mas sim nas motivações que
levaram ao homicídio. Sutilmente, o leitor é conduzido para um passeio pela
história e pelas ruas da cidade, conhecendo alguns seus principais pontos
históricos, revisitando importantes, e, muitas vezes, esquecidas personagens,
mas que foram vitais para a construção identitária do município e da história
de seu povo.
Para compor seu cenário literário,
Samira Diorama mescla aventura, mistério, planos mirabolantes, busca de
tesouros escondidos e até mesmo algumas – às vezes desnecessárias – incursões
no campo da espiritualidade. De modo geral, a aparente fragilidade na
construção de algumas personagens é compensada por um estilo ágil e por uma boa
concatenação dos episódios, o que possibilita que a leitura seja feita de um
fôlego e que o leitor também se sinta como mais um componente na trama em busca
dos verdadeiros fatores que levaram à execução do jovem e curioso pesquisador.
Utilizando a técnica de compor
capítulos curtos e ágeis, a escritora consegue imprimir a seu texto a uma série
de peripécias que irão culminar em um clímax, que pode até ser previsto pelos
leitores mais experientes, mas que vem condimentado com temperos colhidos em
nossa própria terra e com a cor local.
Com seu romance, Samira Diorama da
Fonseca passa a integrar um ainda incipiente grupo de jovens mulheres que vêm
se dedicando à prosa de ficção em nosso estado. Essa ainda pouco estudada safra
de mulheres ficcionistas já conta com nomes como Lorena Silva, Laura Barros,
Heloísa Helena, Ahtange Ferreira,. Grupo esse que ainda contribuirá muito para
as nossas letras.
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