sábado, 2 de maio de 2015

MISTÉRIO NA CASA DE CULTURA

Resenha:

UM MISTÉRIO EM ITAPECURU

José Neres
(Professor, escritor e membro da Academia Maranhense de Letras)

           
A distância entre as cidades ditas interioranas e a capital do cada Estado da Federação, não pode ser medida apenas em quilômetros ou em horas de viagem, mas também em uma espécie de vácuo no que diz respeito à produção cultural de cada município. Parece que há uma cortina ou barreira invisível que impede a troca de informações culturais entre as diversas regiões de um mesmo território. Desse modo, o que é feito em uma cidade parece não surtir nenhum efeito nas circunvizinhanças, assim como a produção intelectual da capital parece também não atingir as demais cidades do mesmo Estado.
            No caso do Maranhão como praticamente em todo o Brasil, as cidades que têm uma, às vezes, efervescente vida cultural, veem quase todos os esforços de seus produtores toldados por uma nuvem de descaso por parte da maioria das autoridades constituídas, de silêncio por parte da imprensa local e pela indiferença de um público-alvo que nem sempre atende aos desesperados clamores dos artistas locais.
            Por essas razões, e por muitas outras, possivelmente nem todos os leitores e até mesmo pesquisadores da literatura maranhense, não conhecem o pequeno romance “O Mistério da Casa de Cultura” publicado há pouco tempo pela jovem e talentosa escritora itapecuruense Samira Diorama da Fonseca.
            A trama do livro segue deliberadamente a trilha de mistério e investigação que anda tão em voga atualmente e que tem em Dan Brown um de seus principais ícones para uma nova geração de leitores que começa a tomar gosto pela leitura de textos literários. O corpo de um jovem é encontrado dentro da Casa de Cultura de Itapecuru, levando as pessoas da cidade e, principalmente, os amigos mais próximos do falecido a uma grande comoção. Poderia ser apenas mais um jogo de intrigas para tentar-se descobrir quem é o autor de um crime que ficou encoberto por uma hipótese de suicídio.
            Sem muito esforço o leitor logo é conduzido para a descoberta tanto do mandante como do executor do assassinato. Não reside aí o mistério de que fala o título do livro, mas sim nas motivações que levaram ao homicídio. Sutilmente, o leitor é conduzido para um passeio pela história e pelas ruas da cidade, conhecendo alguns seus principais pontos históricos, revisitando importantes, e, muitas vezes, esquecidas personagens, mas que foram vitais para a construção identitária do município e da história de seu povo.
            Para compor seu cenário literário, Samira Diorama mescla aventura, mistério, planos mirabolantes, busca de tesouros escondidos e até mesmo algumas – às vezes desnecessárias – incursões no campo da espiritualidade. De modo geral, a aparente fragilidade na construção de algumas personagens é compensada por um estilo ágil e por uma boa concatenação dos episódios, o que possibilita que a leitura seja feita de um fôlego e que o leitor também se sinta como mais um componente na trama em busca dos verdadeiros fatores que levaram à execução do jovem e curioso pesquisador.
            Utilizando a técnica de compor capítulos curtos e ágeis, a escritora consegue imprimir a seu texto a uma série de peripécias que irão culminar em um clímax, que pode até ser previsto pelos leitores mais experientes, mas que vem condimentado com temperos colhidos em nossa própria terra e com a cor local.

            Com seu romance, Samira Diorama da Fonseca passa a integrar um ainda incipiente grupo de jovens mulheres que vêm se dedicando à prosa de ficção em nosso estado. Essa ainda pouco estudada safra de mulheres ficcionistas já conta com nomes como Lorena Silva, Laura Barros, Heloísa Helena, Ahtange Ferreira,. Grupo esse que ainda contribuirá muito para as nossas letras.


TÍTULO: Mistério na Casa de CulturaAUTORA: Samira Diorama da FonsecaEDITORA: NelpaANO: 2013PÁGINAS: 162CATEGORIA: FICÇÃO INFANTO-JUVENIL

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